Pensamento

"Onde quer que o homem vá , verá somente a beleza que levar dentro do seu coração" . Ralph W Emerson

sábado, 11 de julho de 2009

Um Olhar Pra Frente

Há uma petrificação da vontade de luta, ele não pode mais, ele olha para seus pés quase nus dentro daqueles podres sapatos rasgados, cheios de calosidades, sequelas de longas caminhadas a esmo, sem rumo, a perseguir um caminho para a terra do nunca, desencantada na realidade nua e agonizante que cresce nas vísceras do animal faminto e desesperado pelo alimento. Ele nada mais é que um corpo sem vitalidade, a alma o abandonou depois de tantas crenças vazias, tantas promessas sem trabalho, sem propósito. O rio secou e a chuva lavou a areia que construíra o castelo, aquele castelo encantado da princesa, ela fugiu para a torre e lá se trancou com sua inocência. Sobrou um velho carcumido de espírito, pele e ossos a lhe ergue cabeça que tomba em direção ao chão de tábuas da ponte. Como seguir adiante, onde encontrar forças para mais um novo mundo a frente? Essa terra seca, poeirenta, sem verde, essas lentes míopes que miram detidamente a matéria fétida que corre nas valas da marginalidade, do passado pobre, dos sonhos desfeitos, de todas aquelas mãos acenando no adeus. Foram tantos os lugares de onde partiu para nunca mais e, em seu coração ficaram todas as lembranças de amargor. Sobraram-lhe os sonhos com gosto de bolo solado, de desejo desfeito, ombros curvados e o mundo na poeira dos pés. As tábuas são incontáveis, o destino é invisível, a mente não quer mais se esforçar, o fim de tarde se aconchega, mais uma noite e no amanhã, ele ali despertará. A vida invadindo suas pálpebras, forçando a içá-las num esforço supremo e, diante de si, a ponte trêmula, como uma vara de aço do bêbado equilibrista ou um belo tapete mágico do gênio da lâmpada. Dizer não é mais simples, mais fácil ser o negador, assim jamais será um perdedor. Ele tapará os buracos com grifes, propagandas, capa de revistas, coisas que cubram sas feridas em carne viva, ele continuará negando a dor, mesmo que a carregue nos braços, como se fosse valoroso, virtuoso, aceitar a sina a lutar pela vida. Talvez sejam os solitários, os abandonados, os que busquem a benção da luta como valia pela continuação dessa vida, vida sem fim, apenas um caminho a percorrer e encontrar a si mesmo. Uma gota no oceano.

2 comentários:

  1. San, adoro a figura de pontes e de caminhos. Eu sinceramente dissemino em mim que nós escolhemos nossos caminhos antes mesmo de nascer e percorremos cada pedacinho almofadamente sozinhos. Temos ajuda e auxílio, entretanto. São caminhos conjugados, conjuntos, escolhidos e filtrados por nossas escolhas remotas. Mas somos sozinhos em conjunto, cada um de nós de um lado da ponte , em uma margem ou limite pertinente. A comunicação é que faz a ponte. Esta é composta de um material inicial chamado amor,ou respeito,ou dever ou destino.

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  2. Leilinha,
    Concordo contigo, mas vivemos numa época de secas, o barro sem água não gera brotos de flores a nos guiar pela vida.
    Beijo e obrigada pela visita.

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