Pensamento

"Onde quer que o homem vá , verá somente a beleza que levar dentro do seu coração" . Ralph W Emerson

domingo, 12 de maio de 2013

Mãe - Para Lembrar com Saudades




Mãe a gente tem para sempre, ela ao te dar a vida, a ser tua fonte de vida, ele cria um laço eterno contigo, indissolúvel. Pode ser que a vida te carregue dele, ou faça ela te abandonar, pode ser que nunca mais se reencontrem, seja pela morte, pela fatalidade ou por circunstâncias tais, que não podes afirmar com sinceridade e verdade, os motivos e muito menos o que levou uma mãe a tal ato.

Mas você saiu de dentro dela, e ali dentro daquele berço começa a existir uma longa história. Muitas e muitas mães deixam de ser mães, interrompem uma gravidez, não dão uma nova oportunidade a você para crescer e se desenvolver. Outras no entanto têm seu destino cruzado por um homem, desconhecido até, um sequestrador, um estuprador, um pai abusador, um pedófilo, uma alma perturbada que poderá germinar um útero e te trazer à vida. se saber o nome de quem colaborou com tua fertilização, mas ali existirá para sempre os genes daquele que patrocinou sua experiência de vida. Vez por outra vais perguntar de onde vieste, qual tua origem. Muitas histórias tristes, muito desamor, maldade, injustiça, a maior de todas talvez seja a ignorância, o não valor de uma vida da qual cada um daqueles que se unem num simples ato sexual, seriam responsáveis por cuidar, proteger e encaminhar essa alminha para seguir adiante na vida.


Mas somos muito egoístas, seja por termos recebido amor mas não termos apreendido o que é o amor, seja por nossas limitações pessoais, sempre tão offline das conexões mais importantes, para os deveres com nosso próximo. Para uns parece que ao se nascer sozinho, empurrado pelas contrações uterinas, a  gente sai pela vida quase em estado de autismo, criamos um mundo só nosso e vamos batendo cabeça , aprendendo na porrada.  Talvez seja em parte verdade, muitos de nós precisaremos em algum momento da vida soltar as amarras, desfazer os laços, sermos livres, autônomos para escolher nosso próprio caminho. Mas talvez ainda existam algumas outras chances pela vida. 


Na minha crença em Deus, numa inteligência maior, no poder do "divino", somos uma luz que nasce e tem no universo seu destino a ser cumprido, e junto, um bando de encruzilhadas a serem vencidas e também um monte de encontros e reencontros com pessoas que cruzam nossos caminhos, e nos amamentam, nos cuidam com zelo, protegem, nos criam, nos fazem sentir "filhos de verdade". Podemos ser escolhidos como filhos, algumas vezes o acaso nos colocar aos pés de mãos caridosas que nos recolhem, nos alimentam. Vamos ter mães-amigas, aqueles que socialmente nos chegam e podemos nos desabafar, muitas vezes com maior afinidade do que com nossa própria mãe de sangue. algumas mãos serão as que nos ajudarão a levantar, seja numa psicoterapia, num consultório médico, numa formação profissional. Quantas vezes um professor faz o papel de mãe, se preocupa, percebe o sofrimento de uma criança, a violência doméstica, o abandono. Muitas vezes eles poderão ser alguém a admirar e a seguir como exemplo.


O ciclo da vida mesmo que longo, um dia nos leva a mãe, leva parte de um todo e fica um buraco, um vazio muito mais pela ausência do calor do peito, das mãos a nos acariciar com bolinhos de chuva no lanche, uma sopinha reforçada quando ficamos adoentados. É esse calor humano, esse carinho que vai embora do nosso cotidiano. A gente vê se definhando a vida de alguém que amamos profundamente, apesar de todas as divergências pela vida afora, ali houve algo muito importante, aquela mulher em algum décimo de segundo optou por nos dar a chance de viver e isso não tem preço. E quando ela se despede, some da nossa vista, a gente se agarra ao cheiro nas roupas, aos pequenos objetos dela que guardamos como uma relíquia, mas o tempo vai limpando essas materializações e quase tudo se torna "inanimado" sem vida, sem cheiro, sem cor.


Sobram então o de mais rico, de mais profundo, o amor, seja por aquela mulher que nos acalentou dentro do ventre, seja por aqueles que nos acolheram em seus lares, nos deram uma família, seja por aquelas pessoas que na ausência e carência de amor e segurança, nos puderam ensinar a sobreviver nessa vida e podermos ser felizes, mesmo diante de qualquer dificuldade que possamos ter vivido. As saudades são como um álbum de fotografias que vai se abrindo em muitas ocasiões especiais que partilhamos com as nossas mães. Logo aparece um sorriso em nossa face, algumas lágrimas rolam de alegria pelas recordações. Tudo muito intenso, muito sentido, uma mistura de tristeza e alegria juntas.


Hoje é um dia de saudades para mim, lembrar de minha mãe me emociona, foi alguém que ficou marcante na vida de muita gente que a conheceu. Fiquei aqui agora pensando da primeira lembrança que tenho hoje da minha infância e me lembrei de minha primeira viagem a São Lourenço, só nós duas, e ela me fez andar na charretinha com um bode empurrando pela pracinha na frente do Parque das Águas. quantas e quantas vezes voltamos lá por quase toda a minha vida, São Lourenço me viu crescer, foi lá também a segunda Lua de Mel de minha mãe quando casou com meu padrasto. Foram alguns festejos de seu aniversário nos Réveions. Me recordo dela aprendendo a dirigir, saindo toda arrumada, era muito mais vaidosa que eu, indo visitar as amigas. 


Se de um lado eu me tornei sua filha protetora devido à sua fragilidade emocional, ela era uma coluna de mármore à qual eu me agarrava, tal qual uma âncora. Sabia que ela não falharia comigo, mesmo que por vezes não tenha sabido me poupar emocionalmente, ela viveu por muitos anos tendo a mim como a razão dela se manter viva. Ah... ela era apaixonada como sou, de uma alegria borbulhante para espantar a tristeza que habitara parte da infância dela. Ela soube dar várias voltas por cima, vencer limites enormes, viveu  sempre querendo aprender mais. Nós duas disputávamos as palavras cruzadas, escrevíamos bilhetes apaixonados nos aniversários, uns ainda guardo até hoje. ela como seu pai, meu avô paterno, escrevia trovas, adorava contar piadas, gargalhava sozinha na cama ouvindo o "Show do Antonio Carlos" às 05:00 horas e o rádio acompanhava ela por todos os cômodos da casa.


Houveram momentos de tristeza dela e meus, nossos desentendimentos, os castigos que recebi, embora conviver com minha mãe tenha sido um caminho de altos e baixos, eu quis muito ser como ela. Aquela fortaleza forjada pelo amor, aquela mulher que se sacrificou por mim, que sofreu em silêncio para não me assustar, me poupar. Como não ter saudades de tudo o que admirei nela, de tudo o que me ensinou, do orgulho que tenho de ser parecida com ela em algumas coisas de temperamento, alguns traços físicos. Foi um prazer tê-la em minha vida por 32 anos, ela me deixou pronta para a vida, me ensinou a me virar. Um dia tempos depois, descobri que precisava não ser mais a filha da D. Neuza e sim apenas eu mesma a Sandra Helena Gonçalves.


segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O Caminho do Meio é a Compreensão Sobre o que Precisamos Aprender

Existe uma estrada a percorrer na vida, é a própria vida. Vivemos essa história sem saber onde vamos parar, somos encaminhados por aqueles que nos protegem, guiados pelos nossos instintos e somente mais tarde pelo nosso intelecto e contemplação do todo, então sim, podemos alcançar a compreensão dessa trajetória.

Muitos vão caminhar às cegas, desorientados em busca de algo em que se apoiar, vão tropeçar nas pedras, fazer destas marcas que vão sangrar pela vida afora, outros poderão ter medo do abismo, das encruzilhadas, vão devagar, se agarrando à encosta, com muita dificuldade em tomar decisões sobre o que lhes pode ser melhor. Com certeza a maioria vai tropeçando em si mesma, vivendo o cotidiano sem muita preocupação com o que será. O que será, será?


Eu me questiono quanto a um destino traçado onde somos apenas marionetes, onde nossa mente apenas funciona como uma máquina a agir e reagir ao entorno, sem que haja realmente um propósito maior dessas minhas células em algum momento germinarem num óvulo fecundado e criarem a minha existência. Até as baratas têm um propósito, aliás, o mundo não existiria sem elas! Quando penso na minha existência, me vem sempre a necessidade de sobreviver sim, mas algo mais, o estar me integrando ao que me rodeia,  poder de alguma forma conduzir minha vida de forma a ter um eixo que me traga maior equilíbrio, e aí sim, mais realização e satisfação com essa maravilhosa sensação de estar viva.


Claro que agora na casa dos cinquenta, o prazer é outro, talvez bem maior do que aquele da minha adolescência, onde eu começava a descobrir quem eu poderia ser, sem me importar muito com o resultado disso. Eu era um punhado de hormônios em ebulição, carregando meus traumas, carências no bolso, sem nem me dar conta de quanto eles precisavam de lustre. Eu era apenas resultado da minha criação e educação, era um monte de desejos e receios a pulular para todos os lados sem direção. O ego se encarregava de reafirmar ser dono de minha vontade, entre gritos de independência, lágrimas de frustração e uma memória curta para  não ficar muito tempo elucubrando sobre a morte da bezerra. A gente acredita que tudo pode ou desacredita firmemente ser capaz, mas não temos consciência ainda de que cada uma das nossas escolhas terá fundamental importância no nosso aprendizado, para então ser fundamental na forma como vamos escolher vivermos essa trajetória.


Não somos "donos" da nossa vida, mesmo que eu acredite seja tudo estarmos conscientes do que fazemos e em coerência com o que sentimos, coisa quase sempre deixada de lado. Falta uma cultura de validação dos sentimentos, somos o que temos de identidade, quando somos filhos de alguém, quando temos um diploma, um emprego, dinheiro para pagar o que precisamos e desejamos ter. Encaixotamos nossas emoções, minimizamos  todo o sentimento que fica abafado entre toda essa função de procurar ser alguém na vida. Pisamos no que sentimentos, levamos as dores na mochila como parte da vida, como resultado e experiência, quase nunca perguntamos a nós mesmos se esse sofrer é preciso. Seguimos em frente pouco nos importante com o que vai em nossa alma.


É a vida,  a sede é maior, a disputa faz a gente passar por cima, se defender, criar todas as barreiras possíveis para que  sejamos "fortes" nessa luta pela sobrevivência sócio-econômica. O resto que se exploda! Pior que em algum momento do caminho explode mesmo, é a tristeza danada que aperta o peito, é a sensação de mágoa profunda, a dor da invalidação, a frustração por não conseguir conquistar nossos ideais. tudo fica ali, guardado num cofre forte, corroendo por dentro nossas cascas de aço impenetráveis. O tempo é um sinônimo da realidade, dessa cruel realidade que nos põe de frente com a consequência daquilo que deixamos de lado, negamos, fugimos até.


 A vida é sábia nesse sentido, o "meio" existe, é a coerência entre o que sentimos, pensamos e fazemos, quando não respeitamos isso, nos tornamos frágeis, pois nossos conflitos internos nos derrubam em algum momento. claro que muita gente vive pela vida afora assim, infeliz sem nem se dar conta disso, acreditando que existe uma guerra e ficar vivo é o que interessa. Matam por qualquer valor, dinheiro, poder, inveja, honra, mas nada de lutar na guerra real, que é tirar o verdadeiro proveito da vida, que é o estado de contemplação em equilíbrio, ou seja, andando pelo caminho do meio, ponderando sobre o que nos causou dor, mágoa, nos frustrou, percebendo que existia uma necessidade maior de vivenciarmos toda essa história, sem precisarmos colocar o  karma na questão, somente refletirmos sobre o que vivenciamos e como isso mais tarde se torna claro e transparente para aquele que busca compreensão e correlação sobre quem somos, o que acreditamos e a real necessidade de nos reconstruirmos frente a uma busca de maior qualidade de vida e maior abrangência de observação dessa nossa vida dentro do universo que nos cerca.


Não vamos aqui imaginar o meio como aquele muro onde nos penduramos sem saber para que lado ir, a incerteza do que deseja, a total falta de atitude pessoal. Muitas e muitas vezes vamos fazer escolhas equivocadas, precipitadas, impulsivas, sem qualquer ponderação quanto ao resultado e menos ainda quanto ao que realmente desejamos e levando em consideração do que podemos e necessitamos. É caminhando pela vida que descobrimos que, diante das encruzilhadas vamos percebendo que podemos fazer diferente, que falhamos e ainda assim podemos aprender. somos lentos, o caos da vida nos engole e somente após um tempo é que conseguimos observar a nós mesmos e nos questionar quanto a ser exatamente este o papel que desejamos para nós.

O bom da história é o respeito que podemos exercer por nós mesmos, levarmos mais em consideração nossos sentimentos, o do próximo, não nos ocultarmos nas relações, poder usufruir de verdade todas essas experiências e assim compreendermos que nada é em vão. Lembro bem de que a ausência de meu pai na minha infância em função da separação dele com minha mãe foi complexa pois de alguma forma haviam mensagens subliminares que o invalidavam. De alguma forma minha opção foi ser forte como as mulheres da minha família o eram, eu precisava proteger minha mãe que se fazia de forte para me proteger. De alguma forma menosprezei a figura pouco conhecida que vislumbrei de meu pai. Procurei ser o oposto e me opor aos homens de alguma forma para não ser "abandonada" por um. Depois de muito tempo compreendi através da psicoterapia, que precisava ser a menina que queria ser protegida, amada e que sentir-me segura dependia mais de mim do que do outro. Passados muitos anos reencontrei meu pai, basicamente o tempo não tinha alterado nada para ele, a não ser os cabelos grisalhos e uma tristeza pelo casamento frustrado e uma pacata vida sem grandes lutas, apenas uma triste acomodação. Isso me fez lembrar quando li um texto ontem no "TERAPIAS INTEGRADAS" que comentava da dificuldade de certas pessoas em acreditarem que podem ser felizes, apesar de tanto tempo numa vida difícil. Lembrei de meu pai, daquele simples operário que creio que nunca quis muito da vida e em algum momento eu me encontrei muito próximo desse homem simples que me deu a vida. Ele era um outro lado meu que eu não queria admitir ter, o pedaço de mim que era desapegado, frágil, simples, sem grandes ambições. E como me serviu de conforto encontrar algo nosso que me fez tão bem, sua humildade e simplicidade me fizeram enxergar o mundo com os pés no chão. O não ter nada dá uma sensação tão boa de não precisar usar proteções, estar sempre pronto para o que virá, o que tiver que ser, apenas ser mais uma etapa sem que eu precise ser forte e vencer todas as adversidades.
Aquilo que de alguma forma me invalidou por muito tempo, me deu uma outra dimensão da vida que me salvou de querer exigir de mim ser quem não era. Afinal não podia negar minha genética, mas precisava ponderar minha história na sua dualidade.