Você já acordou e se olhou no espelho e encontrou outra pessoa? Você não se reconhece mais, aliás, você literalmente esqueceu quem foi, seus planos se diluíram num cotidiano de luta cega. O tempo passou e você vive tendo que se enquadrar em novos protótipos que a sociedade exige, se adequar aos resultados de que você é obrigado a encarar, na maioria das vezes, as coisas não são positivas, ou fingimos que estão . Mas nem tempo temos para refletir sobre o porquê tudo mudou, e o que você contribuiu e onde você resistiu ou quando desistiu.
Vivemos num momento onde "tudo é possível" , nada mais é feio, grotesco, repugnante, imoral. Todos vivemos numa época de transição onde a permissividade é comum a todos, muitos se aproveitam, vestem as máscaras de "caras de pau" e invadem nosso espaço, nos roubam descaradamente, se aproveitam da limitação de certas classes de pessoas, vendem a moda. É um monte de assinante de TV a cabo com 150 canais que assiste a TV Globo , TV Record, invariavelmente, e de trouxa paga um cabo por status, para ver um filme fim de semana, muitos combos e pacotes mais baratos, mas alguém se interessa em se defender da ganância sobre nossa ignorância e comodismo? Da mesma forma chegaram os celulares, um objeto estranho inanimado para dinamizar a comunicação dos executivos sem tempo, e me vira uma peste de mania nacional dos devedores de conta para as inúmeras empresas, vendem a alienação cotidiana dos fones de ouvido, dos mais de um celulares , joguinhos, câmeras, e-mails, até eu Brutus! comprei mais um! parece essencial como oxigênio.
Trocamos de papéis a todo momento, a vida se segue e a família co-existe, com pais suando a camisa para sustentar o padrão, pulando a cerca para evitar o seu fracasso no casamento e mantendo as péssimas aparências. Mulheres hoje tem voz ativa dentro de casa, quando não sustenta sozinha a família de um pai omisso, ela mostrou que é igual talvez diferente na feminilidade, mas capaz de ir em busca de realização e prazer, apesar de um útero romântico.
Os machos andam se depilando, colocando botox, criando os filhos, não mais senhores feudais, mas sim em busca de encontrarem seu novo papel de homens sensíveis e convivendo com uma população alegre e colorida de GLS, estabelecidos apaixonantes e extremamente vultuosos em suas paixões, que deixam a heterossexualidade à míngua de uma crise sobre como ser feliz com um outro alguém.
O homem ainda se busca , é um mutante, um aprendiz errante, cego, surdo e mudo quanto à sua responsabilidade em crescer, ser capaz, cultivar sua decadente auto-estima. Não dá mais para sonhar com príncipe encantado em procurar o sapatinho de cristal. O coração tem sequelas das ilusões perdidas, a solidão vira encontros fortuitos, muita excitação alcoólica e um mergulho no submundo as drogas. desde cedo estamos em nossas mãos, numa fase do mundo, onde não acreditamos em Papai Noel, podemos morrer a qualquer momento com uma bala perdida, penetramos na tela do computador para nos exilarmos deste mundo real e cruel, onde somos rejeitados, traídos, abusados, invalidados. Existe um silêncio dentro de cada um de nós, ele fala da tristeza, poço da depressão de quem se esquece na beira do caminho.
Nos agarramos ao poder do dinheiro como bem maior, realmente, nosso exemplo é de que o dinheiro compra a dignidade, lealdade, honradez humana. Acreditamos que ele seja a salvação, mas ele não cura a dor de ninguém, não compra amor, atenção. Ele compra diplomas que você não honra com sua competência, compra drogas que é um bom negócio para quem vende e brinca de bandido e mocinho, compra muita companhia da prostituição, compra a escola para passar de ano os filhos, idas ao shopping, cabeleireiros, geladeira cheia de tranqueiras, compra a plástica, mas não tira o medo de não ser amada nem paga qualquer dívida cármica , confiança dos filhos, muito menos qualquer rito pagante divino.
No fim, sobramos nós mesmos, cada um perambulando a encontro de si mesmo, se achando no espelho do elevador, todo maquilado de palhaço e um profundo olhar triste nos olhinhos miúdos.