Pensamento

"Onde quer que o homem vá , verá somente a beleza que levar dentro do seu coração" . Ralph W Emerson

sábado, 30 de janeiro de 2010

Nossas Águas e Emoções - Prazer, alegria, dor


 

Brisa morna que envolve o corpo e o deixa a desejar entrar pelo mar adentro se refrescando do calor do dia. O suor escorre pelo rosto enquanto o sol se põe lá no horizonte, por trás das montanhas de pedra e o adeus temporário é permitido enquanto caminho sem rumo.
Relâmpagos cruzam o céu anunciando um espetáculo, trovoadas retumbam forte no ar como fogos de artifício e pingos de chuva caem aqui e ali umedecendo minha pele suada. Fecho os olhos na caminhada para sentir o prazer da água gelada no meu corpo, chuva, lágrimas do céu, que venha me lavar o corpo e limpar minh'alma! Ergo os braços, como se abençoando e agradecendo aos céus por mais essa força da natureza que desce sobre mim e me inunda a alma de prazer.

As roupas colam à pele, me sinto nua  diante da transparência visual, a pele se arrepiando com o frescor, me excita o contato e me recordo de músicas que falam da chuva, das danças dos índios para que a chuva viesse até eles, da simpatia das lavadeiras que jogavam um pedaço de sabão no telhado, das enchentes que inundavam ruas e bairros, do mar bravio nas tempestades, do aconchego de uma casa enquanto a chuva bate forte no vidro da janela...
A natureza é um grande mestre para quem a observa e apreende com ela e com certeza se rende a ela. Nosso planeta é um planeta de água, rios, lagos, oceanos se misturam à terra criando desenhos, fertilizando , cultivando e formando mares por onde se navega a esperança. Sem água se morre, seca, nada cresce, tudo se perde. Somos seres de água, nossas células precisam dos líquidos corporais para se reproduzirem e se alimentarem.
A água é condutora, é meio de sobrevivência, é fonte de nutrição e crescimento, é símbolo da fluidez, da emoção, do sentir. É  dela que temos sede, sede de vida, sede de sentir a vida fluindo em nosso ser.
As cachoeiras nos lembram as tristezas das lágrimas aos borbotões que em algum momento transbordaram de nossa alma doída.
 Os córregos entre os pastos nos trazem a lembrança dos caminhos tortuosos que encontramos pela vida e aos quais nos adequamos diante das pedras que se traduzem em empecilhos. Os pântanos com suas águas mortas, estancadas traduzem nossas mágoas que se fincam entre as raízes e se tornam lodo nos imobilizando e nos acomodando às dores do passado.
A neve se põe leve e branca , cobrindo a paisagem tirando de nós o arco-íris das cores e nos faz compreender a necessidade de nos render e sermos flexíveis em tempos adversos, quando não podemos nos erguer e nos confrontar.
Os grandes rios com suas correntezas nos mostram nossa capacidade de navegar por entre margens, nos dão limites e a necessidade de seguir caminhos sem volta a partir das nossas opções, são tarefas que devemos ir até o fim
Os lagos nos transmitem a placidez da calma, nossos momentos de reflexão quando a parada é necessária, quando nos vemos cercados e precisamos olhar dentro de nós e nos sentir protegidos pela mãe terra.
  As fontes de água límpida  trazem à luz nossa pureza de espírito, nossa translucidez com as percepções e intuições, a consciência do ser inocente. As ilhas em meio aos mares nos traduzem nossa capacidade de sobrevivência, nossa solidão que nos resgata o Eu e nos faz fortes, capazes de nos nutrir.
Os oceanos nos passam a infinitude do horizonte, nossos sonhos, a  profundidade de nosso Eu Interior, nosso inconsciente, o que jaz no fundo do mar, nossos fantasmas, nossos dragões acorrentados às âncoras dos naufrágios emocionais, nossas tragédias, de onde resgatamos o "pra sempre" do que foi e do que virá.
Água santa, água benta, água cristalina, água-viva, água caliente, água mineral, águ-ardente, água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
Água-Vida.
Que deixemos fluir nossas emoções, que nos deixamos conduzir pelos rios da vida, que sejamos uma ilha e nos demos o prazer de formas arquipélagos e no futuro sermos um continente, que é nossa origem maior.
Um beijo molhado.
Sandra H. Gonçalves
02 / 11 / 2003
 


sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Os Excluídos e Sobreviventes





Dias atrás eu me vi mais uma vez tocada pela tragédia do Haiti, talvez pela grandiosidade do terremoto, e mesmo que a poucos quilômetros daqui, as águas rolaram morro abaixo e despedaçaram-se muitos lares. Pedras rolaram quebrando o clima de festa. No sul também houveram enchentes,  em São Paulo e no interior. Netuno anda precisando lavar a terra e, eu com minha Vênus pisciana, adoro chuva e sempre me preocupa com o quanto vai levar de terra na grande correnteza. Mas, passei o fim de semana querendo dizer do que sentia, mas difícil expressar tanta coisa junto que me sensibilizava, até que recebo um e-mail de um amigo, que repassava o desabafo de sua amiga e colega de pós-doutorado e, tinha encontrado o que me mobilizava realmente.
Katia dizia... "Eu tô que não consigo sair do Haiti. Tenho rezado, chorado, cantado, registrado tudo que me assalta nesse horror… Igual à época de Katrina… eu me vejo lá, aqueles sou eu… Eu queria muito não pensar assim, mas não adianta porque eu SINTO assim… num tem jeito."
Dentro de mim estavam todos aqueles desesperados,  todo ser humano que em algum momento lhe tiram tudo, lhe deixam a vida e cada um tem que seguir adiante, diante das perdas afetivas, das catástrofes que a natureza traz pra varrer o mundo da gente. Jamais nessa vida vivi algo do tipo, tive perdas dolorosas, mas sei que minha alma já perdeu muito. 

Dentro de mim existem uma alma de escravo de ontem e de hoje, o abuso físico, o castigo, o valor de um ser humano tal qual de um animal. Ali  o poder do dinheiro comprava serviçais, hoje compra votos, projetos, apoio político, licenças, terras, honra, subimos na escala de valores, só não tem mais castigo.

Da mesma forma o povo indígena foi expulso de suas terras pela barbárie do homem colonizador, do missionário. Vivemos anos e anos vendo filmes de  Fortes Apaches cantando a vitória dos americanos, ingleses e franceses, invadindo terras e matando toda espécie de ser humano, como se não fossem eles, os pé no chão, donos da terra.
Muitos foram lutar pelo que acreditavam, expatriados, perseguidos, vagavam pelo mundo no exílio. Outros foram foco de violência brutal de mentes medíocres que buscavam a pureza da raça e envenenavam, tacavam fogo, afogavam, torturavam judeus, homossexuais, ciganos, feiticeiras, prostitutas. Ainda hoje há fogo na língua do homem intelectualizado, jorrando veneno e ácido, criando emboscada nas ruas, na execução de casais gays, ainda ferve nas pistolas em mãos de milicianos a fúria do preconceito ordinário que cobra pra matar.

Candido Portinari retrata o retirante, outro ser que a seca tirou dele a seiva da vida, e ele se arrasta desidratado à procura de uma fonte de  sobrevivência no sertão dos coronéis a explorar o homem na lavoura de sol a sol. Até hoje as políticas públicas não irrigam a terra brazillis. Lampião se foi, sobrou Padre Cícero e as várias prisões de trabalho escravo e infantil em meio a tapioca e as cinzas das carvoarias.

Sobram ilhas de terra devastada pelo interior da Amazônia, o fogo mais uma vez cresce lambendo o mato seco para criar vales de céu aberto, sem sombras de árvores. Cada vez mais a razão come a carne quente do animal caçado e abatido a pedradas, como no tempo da pedra lascada, inconsciente coletivo dos Flinstons.
Todos num só, um homem de pé no chão, pobre, ignorante, atado à sua terra, seu mundo cresce do chão, seus deuses pedem rituais, dança, música. Talvez seja cada um destes a origem da força vital da regeneração, esse espírito nunca morre, ele é perene, seja pela história, seja pelo exemplo, ele sobrevive sempre a todas as catástrofes.
Aqui cabe o texto de Danticat.
“Somos feias, mas estamos aqui”

 Uma das primeiras pessoas assassinadas em nosso país foi uma rainha. Seu nome era Anacaona e ela era uma índia Arawak. Ela era poeta, dançarina e pintora, também. Ela governava a parte oeste de uma ilha tão exuberante e verde que os Arawaks a chamavam de Ayiti, terra de grandeza. Quando os espanhóis chegaram pelo mar à procura de ouro, Anacaona foi uma de suas primeiras vítimas. Ela foi estuprada e morta e sua aldeia foi saqueada. A terra de Anacaona é agora frequentemente chamada de o país mais pobre do hemisfério ocidental, um lugar de contínua conturbação política. Assim sendo, para alguns, é fácil esquecer que esta nação foi a primeira república negra, terra dos primeiros afrodescendentes a extirparem a escravidão e a criarem uma nação independente, em 1804.
 Eu nasci no Haiti durante o regime ditatorial de Duvalier. Quando eu tinha quatro anos, meus pais deixaram o Haiti à procura de uma vida melhor nos Estados Unidos. Eu tenho que admitir que a motivação deles era mais econômica que política, mas como sabem todos que conhecem o Haiti,  economia e  política estão intrinsecamente relacionadas; em geral, quem está no poder é quem determina se as pessoas terão ou não o que comer.

Eu hoje tenho trinta e quatro anos e já vou vindo mais de dois terços da minha existência nos Estados Unidos. Minhas memórias mais vivas da infância no Haiti envolvem apagões repentinos, os "blakawouts", como dizíamos. Durante os blecautes, eu não tinha como ler, estudar, ou assistir televisão, então eu me sentava perto de uma vela ou de uma lamparina e ouvia histórias contadas pelos mais velhos da casa.
Minha avó era uma senhora da roça que sempre se sentiu deslocada na capital, onde vivíamos. Ela não possuía nada além de suas colchas de retalhos e suas histórias para se consolar. Foi ela quem me contou sobre Anacaona. Eu dividia um quarto com ela, e eu estava no quarto com ela quando ela faleceu. Ela tinha mais de cem anos. Ela morreu com os olhos arregalados; fui eu quem os fechou. Ainda tenho saudades das incontáveis histórias que ela nos contava. Entretanto, não foi difícil aceitar sua morte, porque a morte estava sempre por perto.
 Quando menina, eu vivia indo a funerais. Meu tio e tutor era pastor da igreja Batista e esperava-se que sua família fosse a todos os funerais que ele presidisse. Eu fui a todos os funerais com o mesmo vestido de laço branco. Acho que é por ter ido a tantos funerais que eu tenho um forte sentimento de que a morte não é o fim, e que as pessoas que colocamos debaixo da terra estão indo embora viver em algum outro lugar. Mas ao mesmo tempo eu acredito que elas estarão sempre por perto nos protegendo e nos guiando em nossa jornada.
 Quando eu tinha oito anos, o cunhado do meu tio passou uma longa temporada trabalhando nos canaviais da Republica Dominicana. Ele voltou mortalmente adoentado. Lembro-me de sua esposa girando penas por dentro de suas narinas e esfregando pimenta do reino na parte superior de seus lábios para fazê-lo espirrar. Ela acreditava piamente que se ele espirrasse, ele sobreviveria. À noite, eu era eu a encarregada de observar o céu acima da casa em busca de vestígios de estrelas cadentes. Diz a sabedora haitiana rural que quando vemos uma estrela cadente é porque alguém vai morrer. Uma estrela caiu do céu e ele morreu.
 Lembro-me de na infância ver Jean-Claude "Baby Doc" Duvalier e sua esposa, Michèle, passarem de Mercedes-Benz atirando dinheiro pela janela para as crianças paupérrimas de nosso bairro. As crianças quase se matavam tentado pegar uma moeda ou ver Baby Doc e Michèle. Em um Natal, deu no rádio que a Primeira Dama distribuiria brinquedos de graça no palácio. Meus primos e eu fomos para o palácio e fomos quase esmagados na multidão de crianças que inundou os jardins do palácio. 

Essas histórias e memórias reavivam umas questões que não me saem da cabeça. Qual é o meu lugar agora nisso tudo? Qual era o lugar de minha avó? Qual é o legado das filhas de Anacaona, das filhas do Haiti?
 Ao assistir aos telejornais, é sempre difícil dizer se existem mulheres reais vivas e respirando em lugares detonadas por conflitos como o Haiti. Os telejornais da noite só nos fornecem notícias breves sobre golpes presidenciais, imigrantes rejeitados, e sabotagens em eleições. As histórias das mulheres nunca conseguem chegar às primeiras páginas. Mas elas existem, sim.
 Ao longo dos anos, eu conheci mulheres que, quando os soldados chegavam em suas casas no Haiti, diziam aos filhos para ficarem deitados paralisados e se fazerem de mortos. Eu conheci uma mulher cuja irmã grávida foi baleada no estômago porque estava vestindo uma camiseta com uma "imagem antimilitar". Eu conheço uma mãe que foi presa e espancada por trabalhar com um grupo pró-democracia. O corpo dela é marcado pelas cicatrizes deixadas pelos cigarros enterrados pelos soldados em sua carne. À noite, essa mulher ainda sente o cheiro das cinzas das guimbas de cigarros que eram enfiadas, acesas, em suas narinas. Na mesma cela, essa mulher viu adidos paramilitares estuprarem sua filha de quatorze anos sob a mira de uma arma. Quando mãe e filha entraram em uma pequena embarcação rumo aos Estados Unidos, a mãe nem desconfiava que a filha estava grávida. Muito menos sabia que sua criança tinha sido infectada pelo vírus HIV contraído de um dos paramilitares que a estupraram. O fruto desse estupro, sua neta, recebeu o nome de Anacaona, como a rainha Arawak, porque essa família de mulheres é de Léogane, a mesma região em que Anacaona foi assassinada, a mesma região em que minha avó nasceu.

A pequena Anacaona possui um rosto que não traz mais qualquer traço de sangue indígena, mas sua história ecoa alguns dos primeiros sanguinários incidentes em uma terra que os tem assistido excessivamente.
 Tem um ditado haitiano que talvez não agrade à sensibilidade estética de algumas mulheres. Nou lèd, nou la, que quer dizer Somos feias, mas estamos aqui. Assim como a modéstia característica da cultura rural haitiana, esse ditado é mais caro às mulheres pobres haitianas do que a manutenção da beleza, seja ela superficial ou não. Para mulheres como minha avó, o que vale à pena ser celebrado é o fato de que estamos aqui, que apesar de todas as adversidades, nós existimos. Para mulheres como minha avó, que cumprimentavam umas às outras com este ditado quando se cruzavam ao longo de um caminho de terra lá na roça, a essência da vida está na sobrevivência. É sempre bom lembrar às nossas irmãs que sobrevivemos a mais um dia para atender ao chamado de uma vida muitas vezes dolorosa e muito difícil. É neste espírito que até hoje uma mulher lembra-se de dar à sua filha o nome de Anacaona, um nome que ressoa tanto o esplendor quanto a agonia de um passado que assombra a tantas mulheres, e homens, hoje. 
 Quando foram escravizadas, nossas antepassadas acreditavam que quando morressem seus espíritos retornariam à África. Mais especificamente, retornariam para uma terra pacífica, a qual chamamos de Ginen, habitada por deuses e deusas. As mulheres que vieram antes de mim eram mulheres que falavam metade de uma língua e metade de outra. Elas falavam o francês e o espanhol de seus colonizadores misturados às suas próprias línguas africanas. Essas mulheres pareciam estar falando em línguas estranhas quando rezavam para seus velhos deuses, os antigos espíritos africanos. Apesar de temerem não serem mais entendidas por suas antigas divindades, elas inventaram uma nova língua para descrever o local que passaram a habitar, uma língua da qual brotaram frases coloridas para atender a circunstâncias desesperadoras. Quando essas mulheres se cumprimentavam, elas se descobriam falando em códigos.
-- Como vai você hoje, irmã?
-- Eu sou feia, mas eu estou aqui.

Hoje em dia, muitas das minhas irmãs se cumprimentam bem distante das terras onde aprenderam a falar em línguas estranhas.  Muitas conseguiram chegar a outras partes, depois de viajarem milhas sem fim em alto mar, em precárias embarcações que quase lhes tiraram a vida. Em 29 de outubro de 2002, uma mulher, debilitada pela longa jornada no oceano, ao avistar terra firme teria se atirado na maré baixa. Outras pessoas a seguiram, inclusive meninas e meninos pequenos que preferiram correr o risco de quebrarem um braço ou uma perna a se separarem de seus pais. Estes são apenas alguns dos milhares que chegam às costas estadunidenses ao longo do ano, apenas para serem cercados, algemados,  levados presos, e quase sempre devolvidos para o lugar de onde vieram. Há onze anos, uma mulher pulou no mar quando descobriu que sua bebezinha tinha morrido em seus braços em uma jornada que ela tinha esperanças que as levasse de encontro a um futuro melhor. Mãe e filha foram para o fundo de um oceano que já contém milhões de almas da middle passage, o holocausto do comércio de escravos. O sacrifício da mulher levou muitos de nós às lágrimas, mesmo que o acontecido nos fizesse lembrar de um monte de sacrifícios outros, feitos no passado, em nome de todos nós, para que pudéssemos estar aqui.
 O passado está repleto de exemplos de nossas antepassadas mostrando tão profunda confiança no mar a ponto de saltarem de navios negreiros e se deixarem acolher pelas ondas. Elas acreditavam ser o mar o princípio e o fim de todas as coisas, o caminho para a liberdade e a passagem para o Ginen. Essas mulheres, mulheres como minha avó que me ensinou a história de Anacaona, a rainha, têm sido parte da construção do meu próprio ser desde que eu era uma menininha.
 Minha avó acreditava que se uma vida é perdida, outra vida brota em algum outro lugar, sendo essa nova vida ainda mais forte que a outra. Ela acreditava que uma pessoa não morre, realmente, desde que alguém se lembre dela, alguém que reconheça que esta pessoa, apesar de tudo, estava aqui. Nós somos parte de um círculo sem fim, somo as filhas de Anacaona. Nós envergamos, mas não quebramos. Não somos atraentes, mas ainda assim resistimos. De vez em quando devemos gritar isso o mais distante que o vento puder levar nossas vozes. Nou lèd, nou la! Somos feias, mas estamos aqui.
 E aqui para ficar.
Tradução Katia Santos


















quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ser Mulher - Um Virtude Vigiada e Invejada



Pensava eu estarem busca de reflexão e me deparo com um bando de dedos acusadores sobre uma das participantes da terapia em grupo. Fiquei "rosa chiclete", chocada com o tom de voz acusador. Eu,com minha ambivalência emocional-afetiva de meu Vênus em Peixes de casa 7, me colocando facilmente no lugar do outro e num papel de observadora.  De alguma forma eu me senti nos tempos de  Roma Antiga - Coliseu e os gladiadores(as) arfando em cima da carne quente dos leões acorrentados.
Sentada na cadeira, com uma maleta de mão, uma mulher madura chegava da casa de sua filha, depois de alguns dias afastada de casa, depois de uma briga com o marido-companheiro de num todo de 13 anos de relacionamento, entre namoro, cumplicidade,  até uma vida em família nos últimos 6 anos. O atrito é uma situação de crise prejudicada por ela estar desempregada há 2 anos, paralelamente o marido-companheiro com problemas de impotência depois de 2 cirurgias de próstata, agravada por uma serie de inseguranças pessoais quanto à sobrevivência emocional depois da morte da mãe, e quanto a capacidade viril que quase se associa à possibilidade de sobrevivência psicológica.
Uma mulher que sempre observei assumida em suas "deficiências" de mente criativa e artística, uma ótima auto-análise e, momentaneamente, tentando mudar as consequências de sua história construída. Entre rinhas quotidianas, ela nega sexo e o ego fálico em falência, grita, agride, desconta toda a sua "impotência" quanto ao sentir capaz de exigir, rejeitado  e feroz, a desqualifica e descarrega sobre ela todas admoestações possíveis.
Inominável uma atitude desta, eu iria de mala, cuia e ainda levava  as calcinhas do varal. Impulsivamente me negava terminantemente a continuar ali, a receber em meu corpo um indivíduo desconhecido, pois  existem palavras que constroem "muralhas" entre corpos, sentimentos e pessoas. 

Enquanto ela  expunha a situação, como se sentia e sem saber o que fazer, mesmo ele tendo entrado em contato com ela por várias vezes na sua ausência. Ela assumia que dentro dela não queria mais continuar na mesma casa, sabia que a paz seria temporária, sabia de sua falta de recursos para ter sua casa e que não tem sustentação  de viver sofrendo, já que sempre foi mimada e sempre quis uma figura paterna e provedora a seu lado como companheiro.

De repente escuto  um bando de "boas moças", gralhas  quase dizendo que ela era obrigada a "dar" pra ele porque ele pagava as contas dela, fazia tudo o que ela queria, e elas, nada sutil, mostravam que aquele era um "arranjo" entre amantes que ficou mais fácil viverem juntos, mas quando ela deixou de colaborar, o outro pode jogar na  cara dela o dinheiro empatado na comida, luz e gás que ela gastava. Pasma eu estava, ao ler entrelinhas o ranço que a imagem da mulher ainda se cultiva no insconsciente coletivo. Desde que  a  conheço da terapia, nunca vislumbrei nela uma pessoa interesseira, sim uma mulher criada numa família e época onde naturalmente homens eram provedores, protetores. Há mal em prover quem se ama, prover seu cúmplice, seu amante, seu companheiro de cama e mesa? Desde que não sirva este como pretesto de pagar por sexo, roupa lavada, comida na mesa. Ou c]verdade seja dita,homens e mulheres se unem por uma infinidade de motivos bem contraditórios quanto ao que o sociedade dita como união feliz e consensual.


De alguma forma elas viam aquela mulher como alguma esponja absorvente dos pequenos luxos ganhos e sem muito esforço para ir a luta. Eu ouvi: _ "O dinheiro é dele!";_"Ela tinha que fazer por ele o que ele faz por ela...". Em momento algum eu vi alguma preocupação com a dor daquela mulher, na situação dela,  em se discutir até onde se podia contornar a situação com  um papo a dois onde se discutisse o que realmente faltava entre eles e o que poderiam os fazer em relação à fragilidade e insegurança de cada um, que afetava  diretamente, neste momento a relação do casal. Acontecia nos bastidores das palavras proferidas uma acusação da MULHER, esse feminino que ou é massacrado pelo machismo masculino, que em algum momento cobra o corpo, cobra a serventia sexual da companheira, ou é apedrejado pelas línguas ferinas de um feminino que marginaliza a artista como uma desmiolada, a comodista como aproveitadora.
Choquei... Não acreditava naquele episódio, nos sentimentos renascidos das vísceras humanas, bailando no ar condicionado.
Adormeci pensando sobre o tema e desfilando em minha mente de observadora, o quanto cada um  faz escolhas a partir de valores e crenças, necessidades, carências, e que o amor, aquele laço de fita cor de rosa que envolve o convite de casamento, acontece de verdade ou não após uma avaliação criteriosa do que o outro tem a nos ofertar. Fiquei pensando em quanto de ponderação as mulheres tem para manter um homem ao seu lado, a manter um casamento, um lar, uma segurança para os filhos, um psico-provedor, pelo medo da solidão, da carência de sexo, pela dificuldade em suprir financeiramente os filhos e seus próprios pequenos luxos pessoais.
Quantos homens ainda deitam na mesma cama, muitos já assumem quartos separados, porque não poderão pagar pensão e conseguirem ter sua própria casa, preferem manter uma relação sexual por obrigação para ter quem cuide de sua roupa, administre a casa, empregada, escola dos filhos e, buscam a novidade em transas momentâneas, casos extra-conjugais.

Porque será que a mulher ainda é um grande  ALVO , quase se volta a história de Maria Madalena?
Onde fica a empatia com o sofrimento do outro a seu lado?
E a compaixão pela dor?



sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Todo Fim Gera Oportunidade de um Novo Começo


Depois de 365 dias de uma literal guerra para sobreviver à violência urbana, às enchentes, à pressão das dívidas, resistir ao consumismo das ofertas em trocentas vezes sem juros, à quase total má educação do povo, que com uma educação podre que desqualificou pouco a pouco aquele que chamávamos de "Mestre" e uma escalada de cara-de-pau  corrúptos  em todos os maiores escalões do Governo, sobra quase nenhum exemplo para o povo seguir. Pior de tudo, nesse deserto amoroso, é a impessoalidade das pessoas, cada vez mais o medo e o desejo de se proteger torna as pessoas se posicionando de forma egoísta, dispersa e nada pessoal.
Começamos uma nova década do século XXI e não vejo um rumo para esse povo cego e surdo, que foge de suas próprias verdades, que prefere a comodidade burra à mudança de paradigma e crenças. Há uma enorme resistência a essa necessidade humana de se individualizar com consciência. Alexandre III - o Grande lá nos idos do século IV a.C. tinha seus desejos de poder e junto a seu exército, ele lutou fisicamente. As batalhas eram ganhas naquela época pela coragem, pela força e destreza corporal com a espada, bem típico de um Plutão em Áries tendo Marte como seu dispositor. Foi um período de glórias, mas já naquela época a política existia, os conchavos, e em algum momento se deu cabo do grande herói, Rei da Macedônia. Hoje não temos mais exércitos prontos a seguir seu Rei, somos sim um exército de descrentes, sem heróis, fugindo com as forças maléficas da contravenção de cima e de baixo, oprimidos entre os "poderes", creio eu que essa desordem social seja consequência do trânsito de Plutão sobre Sagitário - tudo que de alguma forma se fez grandioso a custa da não-verdade, de conceitos e uso das Leis de forma distorcida, de alguma forma desmorona pois não se sustenta.
Mais um ciclo se inicia hoje e já a algum tempo, precisamente 1 ano, Capricórnio recebeu Plutão e teremos pela frente uma luta pelo poder, mas aquele que golpeia os grandes oportunistas, que ganham por sobre a crença, a necessidade, confiança alheia e se criam como os poderosos. É hora de tornarmos pó o que jaz de miséria no ferrugem ( Saturno em oposição a Saturno no céu) das estruturas e reconstruir novos valores que norteiem os Governos a servirem como ser dever, o de provedores do povo. Muitas muralhas ainda vão ser demolidas, cabeças hão de rolar pelas montanhas de escândalos. É uma época de forçoso desapego, quem sabe muito trabalho, uma melhor administração a fim de evitar falências múltiplas tal qual a dos EUA. Podemos esperar que Netuno em Peixes nos traga um mar de dissolução, muitas camuflagens poderão alcançar o poder através da fama e do fanatismo, que o colapso faça mãos se unirem e da união dos diferentes, se encontre o homem, o comum, sem emblema, máscara, personagem.
Que 2010 seja um real começo de uma re-estruturação do valor do poder tanto do homem comum  quanto daquele que tem o poder da palavra a ele conferida pelo povo. Que o homem ao se perder de si  mesmo, encontre no outro uma chama de esperança em si mesmo, o que Urano transitando por Áries promoverá, a auto-transformação através da libertação do egoísmo, da ganância e da mediocridade.
Que Deus, Oxalá, Aláh, Krishna, Shiva, Brahman, liberte seu povo da ignorância, que sua luz ilumine nossas mentes e nos desperte a consciência, que penetre em nossos corações e nos doe de sua bondade amorosa, promovendo a compaição entre nós.