Pensamento

"Onde quer que o homem vá , verá somente a beleza que levar dentro do seu coração" . Ralph W Emerson

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Correntes do Mal

Há um silêncio consensual entre os submissos, inseguros e subalternos  e a todos os tipos de autoridade, ou seja abusadores da autoridade, aqueles que sentem-se donos de um poder pessoa, amparados por um título, ofício, ascendência ou total impunidade. O grito adormece na gargante, arranha, fere, abre passagem para uma enorme porta aberta da imunidade. Podemos todos nós ser vítimas dessa enorme corrente do mal, elos que envolvem, apertam, limitam movimentos, sufocam os gritos de terror, formam halos invisíveis de pânico mental, alimentam o medo da criança interior, servem de chicote da perversão psicológica, das admoestações, da manipulação afetiva.
A princípio prometem união, fortunas, são ouro de tolo, alianças, anéis de noivado, laços dourados, presentes, elos protetores, correntes de segurança. Mas  faz parte do aprender com a vida, enxergar muito mais a representação e menos quem ocupa o posto. O homem é um ser capaz de caminhar pela vida e ser bom e cruel, quase sempre desconhece o que é capaz de ser e fazer, seja no seu maior potencial de talento, seja na sua pior opção de machucar, torturar ou matar um homem ser humano como ele. a ignorância faz do indivíduo um ser tosco, quase um primata, que vive por causa de seu instinto, sua parte animal que reage às ameaças e se protege.
Não me coloco à margem do contexto, somente querendo dissertar sobre o que já vivi, me submeto, me sobreponho aos outros e principalmente de como me dói ser presente a certas circunstâncias que são vividas por amigos e amigas minhas, clientes e pessoas com quem convivo de vez em quando. Como pode um ser humano ser capaz de certas atitudes manipuladoras sem ter qualquer resquício de constrangimento, dúvida ou mesmo intimidação pré decisão.
Fico passada com a cara de pau, a pessoa passa a vida acreditando ser alguma "rainha do latão dourado" e ela quer que todos sejam súditos dela. Ela morre de medo de ser largada no meio do caminho, por alguém sem muita paciência como eu, para esse tipo de conduta. Mas vai lá que da última vez eu adotei uma atitude tipo "não vale a pena me confrontar, me aborrecer e criar um clima". Foi mais fácil do que antes, ando realmente ficando velha = ponderada e sábia (risos), já antecipadamente fui pronta para colaborar e não  bater de frente. Mas quando me percebi convivendo com aquela Chapeuzinho escondendo uma Loba Má, fiquei pasma como ela simplesmente ignora a todos, quase uma autista numa bolha dourada e sem muitos sonhos, somente um monte de escombros de anos construindo falsas torres do castelo.  Por horas eu conversei sozinha com ela, era somente uma pessoa presente que jamais se colocava de forma verdadeira. Para que dizer suas verdades? a ela mais importa ter seus escravos enjaulados no seu castelo, onde ela - a megera, mesmo diante de uma história de vida com doenças, ela sobrevive sendo ainda a malvada. Até onde uma pessoa realmente se perde dentro de seu mundo obscuro e para ganhar algo, ela saqueia o direito daqueles familiares, filhos e marido, que tão "domados" são literalmente servo, os quais ela tem uma dó imensa por sofrerem tanto, chorarem por sua estupidez em não fazerem como ela fez a vida inteira. Conheço bem uma das filhas da rainha e sei de histórias absurdas e quando na posição de aconselhamento, tento mostrar a necessidade de não se deixar envolver de uma maneira onde eu percebo uma total aniquilação. Minha amiga e cliente  sobrevive a uma prisão domiciliar-familiar que lhe poda qualquer possibilidade de reação.
As ovelhas , coitadas, sem nome, identidade, CPF e sem rumo, são guiadas por discursos inflados, palpitantes, promessas e mais promessas de fartura, ganhos extras, certificados de AMOR e felicidade eterna. Quem não casa? Quem nada tem,  a miséria da fome , a falta de afeto. Existe família que nasce sem sonho, projeto, sem nem o "unidos venceremos". Há uma apatia, penso eu se salva-se o tesão na cama para energizar as paredes de palafita e o chão de tábuas a vibrar, pois a emoção nas faces pálidas é daqueles que vêem a vida passar, sem TV, sem PC, só mesmo uma paisagem, outras vezes uma escalada pedra a pedra para o céu. Já andei por esses atalhos em pesquisa de Saúde Pública como enfermeira sanitarista, e lá de cima era quase o "céu".Me lembra a história de uma amiga, muito jovem, cheia de garra, trabalhava e estudava a noite e ainda voltava carregando pai alcoolizado para casa. Muitas vezes sobra nada, a não a esperança, ou mesmo o desejo enorme de um encontro, um lugar, para onde ir e para onde voltar.Esses seres que de alguma forma são visto como aparições, milagres, devaneios amorosos, são a própria essência da ambrosia para os deuses do Olimpo. O indivíduo torna-se um deus, mitifica seu semelhante e o segue cegamente. A ingenuidade pode fazer dessa fantasia de sonho impossível num delírio possível, onde muitas vezes  acaba em violência física, em abuso sexual,  traições, humilhações diante dos filhos e parentes. É uma cara lavada, parecem heróis e os fãs babando de boca aberta. No início tudo é permitido e muito a criatura nem enxerga, mesmo que ali na frente dela. A carência é tão grande que ela nega qualquer possibilidade da dissolução do sonho. A ilusão passa a ser a salvação, mesmo que salvar-se seja continuar sendo apenas figuração. 
Mas como enxergar alguma saída diferente? Se mover em uma direção contrária é doloroso demais, por vezes abandonar o barco é perder os laços que lhe acorrentam, que tolhem sua liberdade, sua felicidade. Mas como é ser livre e feliz? O medo de ficar sem nada é apavorante, mais fácil sofrer do que tentar ser feliz sozinho. A mudança é abrir a porta e deixar o inimigo conhecido acreditando que lá fora o caos - o desconhecido é o inimigo oculto.Alguns heróis sucumbem com o tempo, o mito de barro deixa de fazer milagres em algum momento e sobram os esqueletos no armário, enquanto lá fora toca a banda  anunciando um novo ano e cotovelos na janela são rua de lágrimas de uma romaria acasalada de sorriso de Monalisa.
O bom é que a vida é sábia, esse redemoinho, cataventos  se move ao sabor de nossas opções, e o tempo sopra verdades ao vento, que vira furacão e gira a gente contra a parede e a gente se vira! Claro, alguns irão permanecer estáticos, testemunhas da mutabilidade da vida, outros renascerão como consequência de sua própria inação e medo. A vida  te tira e te dá sempre mais uma oportunidade e cabe a você escolher qual caminho seguir. 
O mal existe, é real, todos nós podemos e causamos dor ao próximo, talvez muitos de nós tendemos a ser réplicas dos maus-tratos psico-emocionais que sofremos, por vezes nossa própria consciência e psique distorcida é cauda de certas barbáries. É preciso saber-se onde se está, partilhando a intimidade, permitindo afeto, perceber-se da dor que lhe causam, da fuga dessa realidade sem fugir realmente, somente uma negação do fato dos abusos, da admoestação, da invalidação. Tanta forma pequena de causas estragos enormes para a vida toda num ser humano...