Pensamento

"Onde quer que o homem vá , verá somente a beleza que levar dentro do seu coração" . Ralph W Emerson

quinta-feira, 25 de março de 2010

Íntimo e Pessoal

 Tanta liberdade e tão pouca intimidade. Tudo é permitido, a impessoalidade é meio de ser mais um cara-de-pau e o sujeito vira personagem. O mais interessante é que quanto mais as pessoas passaram a ter medo de se mostrar, de se expor à violência urbana, mais dentro das casas, das escolas, da sociedade, existe uma nova violência, o bullying, uma forma de massacre sociopata sobre aqueles que não "colaboram", seja por se excluírem, seja por se diferenciarem na forma da baixa auto-estima.A violência doméstica, consequência das frustrações e da falta de limite que um dos parceiros precisa colocar O assédio sexual por séculos criminoso e latente, se ocultando por trás mesas dos chefes, das paredes das casas e principalmente pela nojenta cumplicidade familiar em negar que são os próprios parentes próximos a cometer esse crime. A pedofilia outra que não mostrava a cara, escondida entre os porões das igrejas, colégios, em becos de tarados pornográficos que exploram a inocência e falta de discernimento de uma criança ou adolescente.Ter personalidade para desenvolver individuação para pela capacidade de se saber quem é, se sentir, se tocar, ser íntimo de si mesmo, saber se aproximar, se definir colado ao outro. Nada mais desestimulante numa apresentação olho no olho e aquela "mão mole-meleca" que tem medo de encostar na gente, indecisa, parece algo inanimado, sem comando, sem desejo, vontade, um horror.
Ainda hoje a escravidão existe, seja a submissão a certo tipo de modismo, seja pelo ofício escolhido onde o processo é de de nunca mais sair  depois que entra. É interessante percebermos que a impessoalidade é necessária, esta  traz um distanciamento e total isenção de comprometimento afetivo-emocional. Podemos exemplificar as amantes dos sultões e reis, a povoar os Harens, os jardins do palácio, as escravas brancas, as gueixas, prostitutas, políticos, traficantes, ladrões de casaca, etc. Todos viem numa linha imaginária onde se posicionam para sobreviver às intempéries da justiça, e nada mais factual que uma máscara sem o íntimo. Eles não partilham de si mesmo, não doam de si, são mercenários a fim de usufruir do contexto em que se "enfiaram" e manter-se ilesos, vivos até quando podem, raros aqueles que se desgarram da manada e se reconstroem.
Você se constrói a partir do referencial arquetípico que tem dentro de casa, sejam os pais, avós, um grande mestre. A criança segue e imita os heróis da vida dela, venera os que ama,  ama por que é amada e também por ter dependência total para sobreviver, aprende a amar, a receber e dar carinho. Umas são abusadas, psíquica, emocional ou fisicamente por aqueles que detém o poder. Quando começam a lutar pela auto-afirmação, é fundamental que haja o miolo firme, esse miolo é a coluna de sustetação do ser humano pela vida afora, o amor que ela recebe, o afeto que cultiva a partir de como é cuidada, confortada e estimulada a sentir-se amada e feliz.
O amor germina tal qual orvalho a umidecer  as delicadas pétalas de uma flor, como a carícia de um beijo,como a despertar essa pele com o calor do outro, a percepção da natureza da expressão de afeto. Essa gostosura do contato íntimo, a sensação de frescor de um banho, do roçar de corpos, do bico do seio molhado de leite, se oferecendo para ser sugado com prazer. Tudo é erótico para a criança, mas para aquele adulto que o cuida, acaricia, embala, precisa ser AMOR, puro, limpo, cristalino, respeitoso à total inocência. Desse amor nasce a auto-estima desse ser, que sabe-se amado e protegido.
O feminino tanto no homem como na mulher se converte na capacidade que aprendemos a lidarmos com nosso corpo, nossos desejos, nossas fantasias que afloram tal qual os arrepios e frios na espinha, quando todos os sentidos se eriçam em contato com o mundo exterior. A forma como nos conduzimos frente às nossas sensações e desejos corporais, o valor e naturalidade  que aprendemos a identificá-los, muitas vezes castrá-los, reprimi-los e distorcidos, causando limitações quanto ao natural bem-estar, que consequentemente resvala naquilo que definimos como sensualidade, a natural expressão do corpo, a sua condução e convivência,deixando aflorar por entre os panos que o cobrem, uma aura de emanações que o corpo exala e capta olhares de admiração e desejo.

Ser íntimo é que nem a água da correnteza de um riacho que segue seu destino, rumando por onde existe espaço, procurando preencher todo o caminho, lambendo as pedras, provando sabores, experimentando atalhos, se adequando a curvas e sendo receptivo aos que se juntam a ele, somando sensações, que se avolumam e vão se transformar numa gloriosa cachoeira, ruidosa da explosão de sua força do desejo, como um tem descarrilado  numa  frenética, explodindo em gozo num grande lago profundo e plácido.
Ser pessoal,usar o Eu gosto, Eu quero, Eu desejo, expressar suas vontade, aprovar-se pelo que é, pelo reconhecimento que obtém pelo esforço e dedicação ao que faz, a auto-valorização é um ato que começa que o incentivo amoroso dos pais a ensinar, não cobrando perfeição, mas sim a simplicidade de não saber e a disposição em aprender, vai terminar na atitude de vencer seus limites, e ter claro sua capacidade de mudar as coisas, de produzir. Sem amor, paciência ao lado do filho assistindo aos deveres escolares , sem atenção diárias, a criança germina em solo seco e a ausência de afetuosidade é constante, formando um adulto sem essa relação nutridora que o faz fértil, macio, amoroso ao contato com o outro.

terça-feira, 16 de março de 2010

Os Sete Pecados Capitais

A Meme  dos Pecados
O Desafio consiste em você mostrar como você lida cada um de seus Pecados Capitais e, sinceridade ae!!!
*Gula: Comer a toda a hora e/ou além do necessário;
Essa é dos meus pecados mais íntimos, adoro comer bem, comida bem feita, bem temperada e de qualidade e boa aparência. Não sou de ficar petiscando, de vez em quando castanha de caju, amendoim. E comida tem que sobrar, odeio isso de ficar dividindo quantidade para as pessoas.
* Avareza: Cobiça de bens materiais e/ou dinheiro;

Isso é meio difícil, odeio pão-duros, mesquinhez, não sou mão-aberta, mas economizo só por necessidade.

* Inveja: Desejar atributos, status, posses e/ou habilidades de outra pessoa;
Acho que quando era mais jovem, eu ficava azedinha quando minhas amigas casavam, devia ser inveja ou frustração, mas nada do tipo ter raiva e rogar praga e destruir o que o outro tem.
* Ira: É a junção dos sentimentos de raiva, rancor e ódio. Por vezes é incontrolável;

Minha raiva custa para se expressar na forma da ira, nunca bati em ninguém, No máximo tenha raiva de mim quando fico monga e sou passada para trás, de resto só muito da indignação como alavanca de virar o jogo e sair ganhando algo da situação.
* Soberba: Falta de humildade, alguém que se acha auto suficiente;

Auto suficiência é necessário na minha vida,mas não tenho dificuldade em pedir ajuda, em não saber algo, nenhuma vergonha de perguntar, adoro aprender e tentar mudar, são raras as inflexibilidades.
* Luxúria: Apego aos prazeres carnais;

Sem apegos, meu prazer  começa em lidar com meus desejos, a reação corporal, sem nenhuma dependência, vivo bem sem sexo e muito bem com sexo quando ter pra quem dar prazer e receber.
* Preguiça: Aversão a qualquer trabalho ou esforço físico.

 Minha  preguiça só acontece pra fazer exercício físico, preciso de um trator para me puxar pra caminhar, esforço de trabalho, de pagar contas, o resto sempre fazendo alguma coisa e muitos planos pela frente.
Quem quiser, leva o Meme (Di Gratis), basta ser um Pecador confesso, uia!
 


 

sábado, 6 de março de 2010

Um Conto Encantado


Coração Apaixonado Pela Vida

Na quietude da noite fria e cinzenta, ouvindo ao longe os latidos dos cachorros do sítio vizinho, junto ao crepitar da lenha na lareira da sala, o cheiro do chá de capim limão invade minhas narinas e me vem uma paz enorme que me toma o corpo e o peito. Estou só, em meio a montanhas e prados verdes, só a lua se mostra na noite escura rodeada de estrelas espalhadas pelo céu negro e  nublado, ela é minha companheira das horas de insônia, quando me arrasto até a minha poltrona favorita e fico admirando a noite através da porta envidraçada .
 A névoa chegou na serra e caminha oscilante por entre os pinheiros, o frio é suportável e o fogo interno cria uma atmosfera intimista e me sinto abrigada e protegida. Já se faz tarde, altas horas na madrugada e aqui estou eu a divagar entre a leitura do meu livro favorito do momento e minhas lembranças queridas.
 Um sorriso se põe em meus lábios e sorrio de satisfação , vivi muito, hoje sou uma "velha senhora" de 82 anos, a artrite já se faz presente em minhas articulações me deixando mais lenta para caminhar, mas talvez seja uma graça poder ir mais devagar pela vida. Tudo se tornou mais lento, preciso de mais tempo para focalizar em detalhes as imagens, mas quando minha retina capta os tons de uma flor em meio ao capim do pasto, me vejo observando-a com maior deleite, vejo sua graciosidade e elegância perdida entre os tufos do capim alto e tão serena ela , solitária como eu, se faz presente nesse universo.
 O caminhar hoje me dá mais dor ao querer ainda me manter com a coluna ereta, dito dos tempos de mocinha quando minha avó ralhava comigo sobre colocar as costas retas e a barriga pra dentro para manter a elegância, a bengala hoje me ampara e me faz charmosa de outra forma, e termino por valorizar mais cada passo que dou cuidadosamente, escolhendo as pedras por onde piso. Olho mais para o chão e percorro o caminho de forma mais verdadeira, sei das pedrinhas, raízes e declínios do caminho, minhas pegadas estão mais leves e faço paradas obrigatórias nos banquinhos do jardim.
 A respiração ficou mais dificultada, foram anos de nicotina a sacrificar meus pulmões, agora só inspiro perfumes naturais e de vez em quando um Chanel 5 em alguma festa importante. Foram muitos brindes em jantares comemorativos, muitos tin tins entre amigos e agora me inbrio com o cheiro da relva molhada pelo orvalho, pelo odor ocre do excrementos dos animais no pasto, pelo cálido perfume das rosas brancas que crescem embaixo da janela do meu quarto.
 O coração bate mais mansamente, o pulso está mais fino mas não alteraram as minhas emoções, ainda me sinto uma menina quando invento de fazer alguma travessura, ainda consigo arriscar uns passos de dança ao som de um bolero e ainda sou uma ardorosa romântica que passa horas e horas a rabiscar poemas contando o que sei e o que ainda não do amor. Foram alguns amores, uns perdidos pela impaciência, outros cultivados pela inteligência, mas só um guardado para sempre como diamante precioso.
 Ah como eu amei, amei aos poucos, fui amando por impulso, depois esperei pelo amor do outro, crente eu que era só o que bastava, só depois percebi que era um amar sem fim, pois o amor do outro me fez o amar mais profundamente e perdendo minha razão, fui me encontrando na emoção desse amor. Tentei explicar muitas vezes, nunca cheguei a grandes conclusões, sempre faltava algo a concretizar nesse amor e mesmo sem exigir eu o queria de forma mais completa e total. Fui amando o que tinha e descobrindo que podia ter mais quanto mais eu amasse e soubesse esperar.
 Passei amando e esperando e nunca insatisfeita fiquei porque tive mais do que pensei ter, porque jamais imaginei sentir o que senti e vivia a agradecer por poder ter alguém tão maravilhoso, aos meus olhos apaixonados, para amar. Foram tempos e tempos a sentir seu cheiro em  meus lençóis, horas e horas a trocarmos idéias como velhos amigos, quando vezes ficava a acariciar suas roupas com carinho quando ele longe de mim se encontrava, inúmeras expectativas de ouvir sua voz ao pegar o telefone, muitos momentos de nós dois.
 Atiço as brasas da lareira e reavivo as pequenas chamas e me vejo nelas, brasa adormecida de amor, amor que carrego em meu coração, amor que me fez dar mais valor à minha vida e a tudo o que fui, sou e serei nessa vida. Ainda não acabou e torço a cada dia por mais um pouco de tempo para poder usufruir da minha história, hoje como lembranças e saudades que acalanto sem dor.
 Sou feliz, apesar dos limites impostos, ganhei novas dimensões de ser idosa, cresci mais e amadureci inteira, plena de vida, o grande mistério que me trouxe até aqui e agora.
 Com carinho.
San
29 /11/ 2003