Pensamento

"Onde quer que o homem vá , verá somente a beleza que levar dentro do seu coração" . Ralph W Emerson

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O Caminho do Meio é a Compreensão Sobre o que Precisamos Aprender

Existe uma estrada a percorrer na vida, é a própria vida. Vivemos essa história sem saber onde vamos parar, somos encaminhados por aqueles que nos protegem, guiados pelos nossos instintos e somente mais tarde pelo nosso intelecto e contemplação do todo, então sim, podemos alcançar a compreensão dessa trajetória.

Muitos vão caminhar às cegas, desorientados em busca de algo em que se apoiar, vão tropeçar nas pedras, fazer destas marcas que vão sangrar pela vida afora, outros poderão ter medo do abismo, das encruzilhadas, vão devagar, se agarrando à encosta, com muita dificuldade em tomar decisões sobre o que lhes pode ser melhor. Com certeza a maioria vai tropeçando em si mesma, vivendo o cotidiano sem muita preocupação com o que será. O que será, será?


Eu me questiono quanto a um destino traçado onde somos apenas marionetes, onde nossa mente apenas funciona como uma máquina a agir e reagir ao entorno, sem que haja realmente um propósito maior dessas minhas células em algum momento germinarem num óvulo fecundado e criarem a minha existência. Até as baratas têm um propósito, aliás, o mundo não existiria sem elas! Quando penso na minha existência, me vem sempre a necessidade de sobreviver sim, mas algo mais, o estar me integrando ao que me rodeia,  poder de alguma forma conduzir minha vida de forma a ter um eixo que me traga maior equilíbrio, e aí sim, mais realização e satisfação com essa maravilhosa sensação de estar viva.


Claro que agora na casa dos cinquenta, o prazer é outro, talvez bem maior do que aquele da minha adolescência, onde eu começava a descobrir quem eu poderia ser, sem me importar muito com o resultado disso. Eu era um punhado de hormônios em ebulição, carregando meus traumas, carências no bolso, sem nem me dar conta de quanto eles precisavam de lustre. Eu era apenas resultado da minha criação e educação, era um monte de desejos e receios a pulular para todos os lados sem direção. O ego se encarregava de reafirmar ser dono de minha vontade, entre gritos de independência, lágrimas de frustração e uma memória curta para  não ficar muito tempo elucubrando sobre a morte da bezerra. A gente acredita que tudo pode ou desacredita firmemente ser capaz, mas não temos consciência ainda de que cada uma das nossas escolhas terá fundamental importância no nosso aprendizado, para então ser fundamental na forma como vamos escolher vivermos essa trajetória.


Não somos "donos" da nossa vida, mesmo que eu acredite seja tudo estarmos conscientes do que fazemos e em coerência com o que sentimos, coisa quase sempre deixada de lado. Falta uma cultura de validação dos sentimentos, somos o que temos de identidade, quando somos filhos de alguém, quando temos um diploma, um emprego, dinheiro para pagar o que precisamos e desejamos ter. Encaixotamos nossas emoções, minimizamos  todo o sentimento que fica abafado entre toda essa função de procurar ser alguém na vida. Pisamos no que sentimentos, levamos as dores na mochila como parte da vida, como resultado e experiência, quase nunca perguntamos a nós mesmos se esse sofrer é preciso. Seguimos em frente pouco nos importante com o que vai em nossa alma.


É a vida,  a sede é maior, a disputa faz a gente passar por cima, se defender, criar todas as barreiras possíveis para que  sejamos "fortes" nessa luta pela sobrevivência sócio-econômica. O resto que se exploda! Pior que em algum momento do caminho explode mesmo, é a tristeza danada que aperta o peito, é a sensação de mágoa profunda, a dor da invalidação, a frustração por não conseguir conquistar nossos ideais. tudo fica ali, guardado num cofre forte, corroendo por dentro nossas cascas de aço impenetráveis. O tempo é um sinônimo da realidade, dessa cruel realidade que nos põe de frente com a consequência daquilo que deixamos de lado, negamos, fugimos até.


 A vida é sábia nesse sentido, o "meio" existe, é a coerência entre o que sentimos, pensamos e fazemos, quando não respeitamos isso, nos tornamos frágeis, pois nossos conflitos internos nos derrubam em algum momento. claro que muita gente vive pela vida afora assim, infeliz sem nem se dar conta disso, acreditando que existe uma guerra e ficar vivo é o que interessa. Matam por qualquer valor, dinheiro, poder, inveja, honra, mas nada de lutar na guerra real, que é tirar o verdadeiro proveito da vida, que é o estado de contemplação em equilíbrio, ou seja, andando pelo caminho do meio, ponderando sobre o que nos causou dor, mágoa, nos frustrou, percebendo que existia uma necessidade maior de vivenciarmos toda essa história, sem precisarmos colocar o  karma na questão, somente refletirmos sobre o que vivenciamos e como isso mais tarde se torna claro e transparente para aquele que busca compreensão e correlação sobre quem somos, o que acreditamos e a real necessidade de nos reconstruirmos frente a uma busca de maior qualidade de vida e maior abrangência de observação dessa nossa vida dentro do universo que nos cerca.


Não vamos aqui imaginar o meio como aquele muro onde nos penduramos sem saber para que lado ir, a incerteza do que deseja, a total falta de atitude pessoal. Muitas e muitas vezes vamos fazer escolhas equivocadas, precipitadas, impulsivas, sem qualquer ponderação quanto ao resultado e menos ainda quanto ao que realmente desejamos e levando em consideração do que podemos e necessitamos. É caminhando pela vida que descobrimos que, diante das encruzilhadas vamos percebendo que podemos fazer diferente, que falhamos e ainda assim podemos aprender. somos lentos, o caos da vida nos engole e somente após um tempo é que conseguimos observar a nós mesmos e nos questionar quanto a ser exatamente este o papel que desejamos para nós.

O bom da história é o respeito que podemos exercer por nós mesmos, levarmos mais em consideração nossos sentimentos, o do próximo, não nos ocultarmos nas relações, poder usufruir de verdade todas essas experiências e assim compreendermos que nada é em vão. Lembro bem de que a ausência de meu pai na minha infância em função da separação dele com minha mãe foi complexa pois de alguma forma haviam mensagens subliminares que o invalidavam. De alguma forma minha opção foi ser forte como as mulheres da minha família o eram, eu precisava proteger minha mãe que se fazia de forte para me proteger. De alguma forma menosprezei a figura pouco conhecida que vislumbrei de meu pai. Procurei ser o oposto e me opor aos homens de alguma forma para não ser "abandonada" por um. Depois de muito tempo compreendi através da psicoterapia, que precisava ser a menina que queria ser protegida, amada e que sentir-me segura dependia mais de mim do que do outro. Passados muitos anos reencontrei meu pai, basicamente o tempo não tinha alterado nada para ele, a não ser os cabelos grisalhos e uma tristeza pelo casamento frustrado e uma pacata vida sem grandes lutas, apenas uma triste acomodação. Isso me fez lembrar quando li um texto ontem no "TERAPIAS INTEGRADAS" que comentava da dificuldade de certas pessoas em acreditarem que podem ser felizes, apesar de tanto tempo numa vida difícil. Lembrei de meu pai, daquele simples operário que creio que nunca quis muito da vida e em algum momento eu me encontrei muito próximo desse homem simples que me deu a vida. Ele era um outro lado meu que eu não queria admitir ter, o pedaço de mim que era desapegado, frágil, simples, sem grandes ambições. E como me serviu de conforto encontrar algo nosso que me fez tão bem, sua humildade e simplicidade me fizeram enxergar o mundo com os pés no chão. O não ter nada dá uma sensação tão boa de não precisar usar proteções, estar sempre pronto para o que virá, o que tiver que ser, apenas ser mais uma etapa sem que eu precise ser forte e vencer todas as adversidades.
Aquilo que de alguma forma me invalidou por muito tempo, me deu uma outra dimensão da vida que me salvou de querer exigir de mim ser quem não era. Afinal não podia negar minha genética, mas precisava ponderar minha história na sua dualidade.