Pensamento

"Onde quer que o homem vá , verá somente a beleza que levar dentro do seu coração" . Ralph W Emerson

sábado, 19 de setembro de 2009

O Silêncio da Montanha


Cá estou eu enroscada  ao meu chale de lã, lembrança de minha avó materna, de quem herdei as habilidades artesanais, ela gostava de tecer em crochet, e quando chega o cair da tarde nessa montanha, bate a friagem da ausência do sol, que já vai desaparecendo lá no horizonte. A brisa fria nessa mar de vale descampado levanta meus cabelos  a me puxar em direção ao alto, vou subindo a montanha pelo caminho das ovelhas bem devagar, assim meu coração se une a uma respiração profunda desse cheiro de terra, minha terra, que me impregna os pulmõese me sustenta a alma de prazer.

Raras são as árvores por aqui, lá embaixo vejo um punhado de pinheiros numa das fazendas, mas minhas mãos ainda estão impregnadas da colheita das azeitonas verdes, que agora eu trazia na cesta de vime,  cheiravam ainda nas minhas narinas e essa mistura me deixava com saudades, saudades de tempos que não vivi, de caminhos que não percorri, mas de um imenso mar de emoções que carrego aqui, dentro do meu peito, à espera de que, em algum momento, eu ouça de novo a sua voz, no meu ouvido direito, sinta suas mãos a me abraçar pela cintura, colando teu corpo às minhas costas, eu me encaixando tão igual, como se tivesse sido feita para ocupar esse espaço.

Por dias e dias eu venho ao encontro desse silêncio impregnado de história, do cheiro da tua terra mãe, me deixo rolar na grama alta do  como se pudesse esperar que as folhas secas do outono me cobrissem como um manto vermelho-dourado da morte Eu ali quieta me manteria aquecida e sonhando acordada. Ouço latidos a distância,  meus 2 amores brincando , saltitantes, latem quando alguém passa na estrada. Um dia será você a chegar no portão, me olhar com aquele jeito de uma boca tímida e olhos a me dizer o quanto me deseja, eu sorrio e te recebo num abraço por inteiro.

Outro dia me lembrava  de sonhos que tive contigo, da vila, do portão de ferro com aquele vaso enorme de gerânios na entrada, ali você vivia e quando eu passava, te reconhecia. Sempre foi algo entre nós não declarado, uma doce intimidade, uma cumplicidade  e uma distância enorme a te fazer quase impalpável, salvo eu ter te rosto e voz em minha companhia. O destino por vezes é um deserto e é preciso tirar água de pedra, acreditar no impossível, perceber o improvável e saber passar por todas as tempestades de areia e eu assim mesmo, sobreviva à tua espera, espera eterna, talvez nunca seja acalentada com teu corpo junto ao meu, mas as lembranças são vivas, como já vividas.

O sol se deita e no meu despertar sinto falta de você, dessa individualidade orgulhosa, que te faz negar ajuda, que impõe barreiras de um silêncio eterno. Benditas saudades, bendito passado que trago comigo e me farta  em parte da tua ausência. Não sei como te fiz ou o que te fiz, onde minha percepção da tua verdade te expôs demais frágil diante de meus olhos. Até quando me terás como inimiga, só porque sou tão tua conhecida e tu tão meu . Que tua loucura um dia se abrande e te compadeces de mim. O céu negro salpica de estrelas de esperança o meu ser, volto pra casa mais uma vez em fria com o orvalho da noite, abraçada nessa imensa escuridão que é minha vida sem você.

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