Pensamento

"Onde quer que o homem vá , verá somente a beleza que levar dentro do seu coração" . Ralph W Emerson

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Ser Mulher - Um Virtude Vigiada e Invejada



Pensava eu estarem busca de reflexão e me deparo com um bando de dedos acusadores sobre uma das participantes da terapia em grupo. Fiquei "rosa chiclete", chocada com o tom de voz acusador. Eu,com minha ambivalência emocional-afetiva de meu Vênus em Peixes de casa 7, me colocando facilmente no lugar do outro e num papel de observadora.  De alguma forma eu me senti nos tempos de  Roma Antiga - Coliseu e os gladiadores(as) arfando em cima da carne quente dos leões acorrentados.
Sentada na cadeira, com uma maleta de mão, uma mulher madura chegava da casa de sua filha, depois de alguns dias afastada de casa, depois de uma briga com o marido-companheiro de num todo de 13 anos de relacionamento, entre namoro, cumplicidade,  até uma vida em família nos últimos 6 anos. O atrito é uma situação de crise prejudicada por ela estar desempregada há 2 anos, paralelamente o marido-companheiro com problemas de impotência depois de 2 cirurgias de próstata, agravada por uma serie de inseguranças pessoais quanto à sobrevivência emocional depois da morte da mãe, e quanto a capacidade viril que quase se associa à possibilidade de sobrevivência psicológica.
Uma mulher que sempre observei assumida em suas "deficiências" de mente criativa e artística, uma ótima auto-análise e, momentaneamente, tentando mudar as consequências de sua história construída. Entre rinhas quotidianas, ela nega sexo e o ego fálico em falência, grita, agride, desconta toda a sua "impotência" quanto ao sentir capaz de exigir, rejeitado  e feroz, a desqualifica e descarrega sobre ela todas admoestações possíveis.
Inominável uma atitude desta, eu iria de mala, cuia e ainda levava  as calcinhas do varal. Impulsivamente me negava terminantemente a continuar ali, a receber em meu corpo um indivíduo desconhecido, pois  existem palavras que constroem "muralhas" entre corpos, sentimentos e pessoas. 

Enquanto ela  expunha a situação, como se sentia e sem saber o que fazer, mesmo ele tendo entrado em contato com ela por várias vezes na sua ausência. Ela assumia que dentro dela não queria mais continuar na mesma casa, sabia que a paz seria temporária, sabia de sua falta de recursos para ter sua casa e que não tem sustentação  de viver sofrendo, já que sempre foi mimada e sempre quis uma figura paterna e provedora a seu lado como companheiro.

De repente escuto  um bando de "boas moças", gralhas  quase dizendo que ela era obrigada a "dar" pra ele porque ele pagava as contas dela, fazia tudo o que ela queria, e elas, nada sutil, mostravam que aquele era um "arranjo" entre amantes que ficou mais fácil viverem juntos, mas quando ela deixou de colaborar, o outro pode jogar na  cara dela o dinheiro empatado na comida, luz e gás que ela gastava. Pasma eu estava, ao ler entrelinhas o ranço que a imagem da mulher ainda se cultiva no insconsciente coletivo. Desde que  a  conheço da terapia, nunca vislumbrei nela uma pessoa interesseira, sim uma mulher criada numa família e época onde naturalmente homens eram provedores, protetores. Há mal em prover quem se ama, prover seu cúmplice, seu amante, seu companheiro de cama e mesa? Desde que não sirva este como pretesto de pagar por sexo, roupa lavada, comida na mesa. Ou c]verdade seja dita,homens e mulheres se unem por uma infinidade de motivos bem contraditórios quanto ao que o sociedade dita como união feliz e consensual.


De alguma forma elas viam aquela mulher como alguma esponja absorvente dos pequenos luxos ganhos e sem muito esforço para ir a luta. Eu ouvi: _ "O dinheiro é dele!";_"Ela tinha que fazer por ele o que ele faz por ela...". Em momento algum eu vi alguma preocupação com a dor daquela mulher, na situação dela,  em se discutir até onde se podia contornar a situação com  um papo a dois onde se discutisse o que realmente faltava entre eles e o que poderiam os fazer em relação à fragilidade e insegurança de cada um, que afetava  diretamente, neste momento a relação do casal. Acontecia nos bastidores das palavras proferidas uma acusação da MULHER, esse feminino que ou é massacrado pelo machismo masculino, que em algum momento cobra o corpo, cobra a serventia sexual da companheira, ou é apedrejado pelas línguas ferinas de um feminino que marginaliza a artista como uma desmiolada, a comodista como aproveitadora.
Choquei... Não acreditava naquele episódio, nos sentimentos renascidos das vísceras humanas, bailando no ar condicionado.
Adormeci pensando sobre o tema e desfilando em minha mente de observadora, o quanto cada um  faz escolhas a partir de valores e crenças, necessidades, carências, e que o amor, aquele laço de fita cor de rosa que envolve o convite de casamento, acontece de verdade ou não após uma avaliação criteriosa do que o outro tem a nos ofertar. Fiquei pensando em quanto de ponderação as mulheres tem para manter um homem ao seu lado, a manter um casamento, um lar, uma segurança para os filhos, um psico-provedor, pelo medo da solidão, da carência de sexo, pela dificuldade em suprir financeiramente os filhos e seus próprios pequenos luxos pessoais.
Quantos homens ainda deitam na mesma cama, muitos já assumem quartos separados, porque não poderão pagar pensão e conseguirem ter sua própria casa, preferem manter uma relação sexual por obrigação para ter quem cuide de sua roupa, administre a casa, empregada, escola dos filhos e, buscam a novidade em transas momentâneas, casos extra-conjugais.

Porque será que a mulher ainda é um grande  ALVO , quase se volta a história de Maria Madalena?
Onde fica a empatia com o sofrimento do outro a seu lado?
E a compaixão pela dor?



4 comentários:

  1. Meu anjo, gostei mto da maneira q vc expressou, a maneira q vc descreveu, parece q eu estava diante dakele "alvo" vendo os dedos apontados pra ela.
    Realmente, as pessoas carregam padroes, tradicoes e quem sai um pouco disso, elas akbam indignadas, descarregando, acredito eu, suas proprias frustracoes, msm q inconsciente, atraves do "alvo" q teve o "atrevimento" de quebrar suas leis.
    Eh de fato, mtas vzs revoltante essas coisas, mas como vc msm relatou ai, o q espanta mais eh q saum mulheres q a agrediram, ou seja, ao inves de estarem empaticas com a situacaum, por quem sabe estarem vivendo algo parecido, naum, preferem arremessar pedradas.
    Tem algo q minha mae diz q eu acho mto valido, se os homens saum como saum, se as mulheres padecem como padecem, na maioria das vzs isso eh fruto das proprias mulheres, afinal, como maes, elas jah educam dessa forma, por ignorancia msm. Maes obrigam suas filhas a cedo "se domesticarem", jah os filhos naum ha cobranca alguma, claro q naum eh regra, mas digo na maioria dos ksos e eh por ai q comeca.
    As maes alimentam o machismo, fato.
    Bjos meu anjo.

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  2. Olá Sandrinha!Pude ver uma certa perplexidade no seu artigo,e talvez,eu possa tecer algumas considerações.Atendo em um ambulatório público como Psiquiatra,e qdo posso,faço o que chamo de psicoterapia breve.Há 6 meses atendo uma paciente,natural da Bolívia,28 anos,raça branca,graduada,casada com Brasileiro,residente há pouco tempo no Rio,morando com a sogra.A queixa era de ansiedade generalizada,por perdas financeiras,mudança de residência,desemprego,desentendimentos com a sogra,e como consequência de tudo,problemas conjugais.Era uma cabeça de menina num corpo de mulher,bonita e inteligente.Cheia de mitos e inseguranças,como:a carioca é gostosa e quente;eu não passeio por que ele não vai comigo!Comecei por desconstruir os mitos,em seguida melhorar sua auto-estima,fazendo-a ver seu corpo e suas possibilidades,tudo através de questionamentos.Começou a ser vaidosa.Em Dezembro começou a trabalhar.O marido passou a dizer que ela estava diferente...Recentemente voltou,alegando emergência,após 15 dias da última consulta.Falou durante 10 min.Ao final,perguntei-lhe qual era o problema,e ela me olhou com surpresa.Disse-lhe para seguir adiante,que eu não iria aumentar a medicação e ela me pediu desculpas por ter vindo...!!!O problema era o dedo acusador dos outros,projetados sobre ela,acusando-a pelas suas conquistas;mas isso é outra história,que ela mesma vai ter que resolver no futuro,através da tomada de consciência das suas atitudes,com suas consequências e responsabilidades. Beijão,amiga.Tchau.

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  3. Tânia querida,
    Inserida no contexto ali eu estava, chocada fiquei com as atitudes, a falta de amorosidade com a situação, acho que não só me coloquei no lugar dela, como creio que me senti como já me senti antes, em outras situações em ser julgada, principalmente pela questão de ser mulher.
    O que você diz vem bem a calhar quando eu questionava de outra forma esta situação de "alvo", mas o fazia quanto a questão de que enquanto uma pessoa é frágil, coitsda, tão mais fácil recebe ajuda, apoio e como reagem mal aqueles que vem ela reagir bravamnte, ser forte, resistir. Sinto claramente um incômodo e junto uma inveja, sarcasmo. Saiu da projeção dos outros, aí você vira Geni. eheheheheh
    Beijo
    Adoro suas colaborações.
    San

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  4. A "liberação"feminina não tem muito tempo assim...como a abolição da escravatura..a comparação é somente pela falta de liberdade de ambos.
    Penso que muitas mulheres já conseguiram seu espaço e jamais passariam por situação assim..
    mas muitas não..e isso é reflexo da sociedade que vivemos..
    pelo caso que citou vc vê a maioria das mulheres apontaram o dedo contra uma mulher...e são essas mesmas mulheres que criam homens..enquanto a cabeça de muitas mulheres não mudarem..homens não mudaram.
    Belo blog o seu
    Beijo

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