Pensamento

"Onde quer que o homem vá , verá somente a beleza que levar dentro do seu coração" . Ralph W Emerson

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Sussurros do Deserto

Na busca de respostas eu fui atrás do vento que cruzava minha fronte e sussurrava segredos aos meus ouvidos, muitas promessas levadas pelo vento e ecadas entre as dunas. A solidão a qual me coloquei me trouxe a paz tão ansiada a meu coração. Uma liberdade enorme me invadiu diante daquele infinito espaço à minha frente, sem muros a me impedir minha caminhada. Dona de mim, do meu tempo, da minha independência, me deparo com minha auto-suficiência, a glória por tantas vezes almejada, quando da brutal dependência hierárquica e da minha própria imaturidade e ignorância. Por vezes o "se retirar" não é uma busca interior através do meu próprio silêncio, e sim uma fuga da opressão, de uma imposição por submissão que vai queimando meu fogo interno, e vai me curvando pela degradação do olhar sobre o impossível. A penitência pode ser o recolhimento, o desapego forçado ela terra seca quase nunca regada de amor e atenção, o inverno emocional onde congelo meu sentir, me distancio da dor, como se assim pudesse torná-la inexistente. 
 El "frio en el alma" me suena como la música de mismo nombre, un antiguo bolero, uma história de um fim de relacionamento, uma despedida forçada, um fim de ciclo na travessia e  nem sempre sabemos aceitar com serenidade, é um aprendizado que só o tempo ensina, o esperar pela morte, o conviver com o vazio, a aridez que nos esmaga, como se nos faltasse o ar que nos sustenta a vida. A carta do Eremita no Tarot, simbolicamente representa muito dessa solidão forçada, seja por abandono de outros, ou o abandono de si mesmo, a resistência que possuímos diante das perdas, o endurecimento do coração pelo desgosto, a dura convivência com as limitações da velhice, de uma separação, da uma morte de um companheiro. Nossa próprias articulações se envergando diante de uma comodidade  quase auto-privação da vida lá fora, a inércia da não admissão da necessidade de um SEMPRE CAMINHAR PARA FRENTE não existe regressão, existe uma busca eterna pela vida a cada fase com suas próprias exigências e, mesmo quase no fim do caminho, existe um novo recomeçar, mesmo que mais vagarosos os passos, o alongar é preciso, manter sempre a flexibilidade, o sangue correndo quente nas veias a fomentar vida ao corpo e à mente.
Ninha força vem do perseverar, da confiança que deposito na minha determinação de cavar meu caminho com o suor do meu rosto, com meu trabalho, que me faz digno de que sou, da minha origem lá distante no passado. mesmo que invariavelmente eu seja difícil de ser convencida, sou mais difícil ainda de me render à morte. Há sempre um novo renascer, uma luz que me guia na intuição, minha bússola é meu coração batendo apressado diante da escalada íngreme. Por vezes as lágrimas me lavam minha face, recordações de minhas perdas, do vigor da juventude que hoje se faz presente nas minhas rugas e cabelos brancos. a vontade de 'não precisar" é imensa, cultos dos mais novos minha angústia com as doenças, o melindre de ser esquecida. Muitas vezes sou um dever e tenho deveres ainda que me sinta n fim da trilha, mas em algum momento do nada surge uma esperança, meus olhos  míopes ganham um brilho especial quando encontro uma flor no deserto.
Os Florais do Deserto, os Florais Australianos possuem espécies  de delicadas flores a brotar de uma terra seca, por entre pedras sob um sol cáustico, mas a semente vinga ante a devastação, se ergue e brota em flor, como uma rainha. O quanto precisamos de ir fundo do poço em busca de água, para só então compreendermos nossa força interior em suportar muito mais do que acreditamos. As faltas nos dão uma oportunidade de quebrarmos nosso escudo de orgulho e preconceito nos rendemos fraquejados, ajoelhamos em oração a rogar por clemência, nos colocamos em penitência  forçosamente, sofremos  numa luta árdua pelo controle, um pavor pela mudança e a negação do novo. Nossa montanha ganhará  fendas profundas e lá por entre as rochas, nasce um sinal de vida, iniciando um novo caminho onde é preciso humildade diante do valor maior de estar vivo.
As ondas no mar de areia nos mostram os sons do deserto, o natural ritmo que se move ao sabor dos ventos, criando e recriando caminhos, num eterno ciclo, onde o homem marcha como um nômade em busca  de um oásis. Ah... eu bem que viajo por esse deserto, me deito no manto de areia, ergo meus olhos e sou acariciada pelas milhares de estrelas, sonho acordada com minha pequenhez, como um grão de areia, não estou só, sou começo, meio e fim, elo entre passado e futuro, um eterno aprendiz a cada reencarnação.

Um comentário:

  1. Flor, como sempre, sua seiva é puro sentimento se oferecendo ao sol da vida!
    Lindo e verdadeiro. Adorei ler!
    beijinhos,
    Gi

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