Tem dias que a gente se sente, como quem partiu ou morreu... Roda Viva falava desse roda-moinho que nos engolfa, como uma gigante onda, e a viagem não é exatamente no Túnel do Tempo sobre uma prancha de surf, e nós ali, equilibrando todas as emoções na correnteza. A gente bebe até ficar alegrinho e audaz, até perder a maldita timidez pra cantar aquela garota, para se oferecer despudoradamente ao professor gostosão de Matemática para que ele não tenha nem chance de dizer não. O negócio é que foram tirando tantos sonhos da gente, nunca mais as historinhas infantis se transformaram em sonhos realizáveis. Ficamos órfãos de pais, de uma família acolhedora, a mãe virou babá, que virou professora de jardim. Muito papel crepom, cola, lápis de cor, purpurina, resmas e resmas de folhas em branco para a gente gastar o tempo. Ficamos relegados a um bando de estranhos, até "sinistro" virou sinônimo de interessante, legal. As festinhas viraram festanças do Rei Baco, muita bolinha, camisinha furada pra se sentir "felizzzzzzzzzzz."
Entre o céu e o Inferno de Plutão no centro da terra, existe um outro mundo nas profundezas do mar azul. Netuno avisa aos navegantes, sobreviver à superfície é essencial à preservação da vida, mas é preciso mergulhar fundo para lavar o corpo imundo desses "meninos de rua", dirigindo bêbados, fazendo pega em meio a multidão presente para ver sangue, aplaudir a prova da destruição. contemos um monte de programas diurnos nas tvs abertas que glorificam esse cotidiano de merda, violência, morte, são os masoquistas.Esses se entopem de poluição, se sentem existindo quando vêm a sua realidade cotidiana ali na tela da TV, e com certa satisfação se vibra pela manchete sanguinolenta. Lavar essa lama toda de podridão do submundo da corrupção, das drogas matadoras em becos, da falsidade ideológica daqueles que chamamos de mantenedores do poder e da ordem. Netuno adora a orgia, a chantagem, coação, a máfia disfarçada de gravatas e sapatos italianos embarcados em primeira classe ida e volta dos réus eleitos pelo povo, líderes daquilo que o povo elege e aceita em total submissão e negação. Há vida no fundo do mar, mas há abismos que engolem navios, há cemitérios de tudo que se desequilibra, se rende ao torpor, pois vai fundo demais e se perde na distorção das imagens. O sonho pode virar pesadelos horríveis, e somente a fuga é a solução mais fácil, a ilusão é a libertação que aprisiona.
Eu tenho MEDO, deve ser esse meu Vênus pisciano na mira de Plutão que faz o pobre um pudim treme-treme. Netuno no Mapa Natal é sinal de medo do desconhecido, o imaginário coletivo, da ilusão desmedida, tudo Medo, Medo, Medo... Aprendendo a adar numa piscina de trenamento de saltos, um dia uma doida me empurrou no escorregador e lá fui eu pro fundo. A professora caiu n'água para me puxar, sempre foi difícil controlar a respiração metendo a cara dentro da água, gosto muito de pontes e de meus pés firmes na areia, mergulho fundo certa da volta. Esperamos pela tragédia anunciada, um sofrer encolhido no peito, um coração lacrimogênio, que tenta desesperadamente uma "boia da salvação". Nem sempre a gente alcança, nada, nada, nada e morre na praia, falta um feeling que junte os sentidos, a intuição e faça sentido!
A escolha está lá adiante na curva no horizonte, algum lugar no passado, ou possível futuro, por vezes um déjà vu , um caminho sem fim, por onde vamos remando no nosso barquinho de papel, embalados elas marolas sem direção. Sonhamos acordados com o príncipe, e no meio da tempestade terminamos de ressaca na boca do sapo, e um belo sabor de guarda-chuva mofado. às vezes caímos das nuvens, de bunda no chão duro, dóiiiii..., as lágrimas são reagentes , cheias de mágoas, saudades, elas se despedem de nossas retinas, lambendo nossos cílios, borrando nossa maquilagem, lavando nossa cara de pastel , desmilinguindo a fantasia de papel, de repente as cortinas se cerram e...nosso show acabou!
Mais uma viagem se finda e é preciso continuar se descobrindo, experimentando novos mares, alguns sonhos dourados ficarão pelo caminho, outros nascerão num novo porto. Os ventos guiarão nossas velas enquanto estivermos comandantes e inspirados, antenados com o de melhor na vida, a transcendência do tempo-espaço e todas as possibilidades de navegar por todos os mundos.