Pensamento

"Onde quer que o homem vá , verá somente a beleza que levar dentro do seu coração" . Ralph W Emerson

terça-feira, 3 de novembro de 2009

De que Mundo Eu Sou? Serão Eles os Pequenos Abutres?



Faz algum tempo que ando me sentindo à margem desse cotidiano do caos. Se no início de minha adolescência eu era uma concha fechada a 7 chaves com medo da vida, era um zumbi a levitar pelo  ritual de estudos, saídas com amigos, muito rock and roll e dance music. Fui gradativamente tendo que encarar minhas escolhas, vivi crises, fugi de caminhos de sucesso, mas enquanto tinha costa quentes, a vida tinha chão, um falso piso vitrificado que não tinha sido construído com minhas mãos. A solidão era minha companheira junto com os romances empilhados na mesinha de cabeceira, mas eu ainda era uma criança num corpo de mulher, precisei estar só e frágil para que pudesse perceber o que me rodeava de verdade. O mar de gente que desde cedo vinha me mostrando e derramando sobre minha cara suas frustrações e azedumes passaram a ser sentimentos na minha carne emocional.  Eu era um alvo nada fácil, pois raramente fui uma pessoa invasiva, fofoqueira, perdi sim muitos amigos pela minha sinceridade, por expor meus valores distinto dos meus amigos. Talvez minha força em conviver com que a vida me traçava no caminho e me vazia defrontar com circunstâncias ou pessoas que muitas vezes eu não compreendia, mas minha atitude era fatalista, nunca corri do inevitável. Talvez essa forma de fuga da minha Lua capricorniana me fazia aos olhos alheios como duas colunas inabaláveis de mármore frio e resistente a quaisquer tempestades. O poder é uma ameaça àqueles que sabem-se fracassados, o ressentimento corrói e o veneno da inveja dilata a veias e faz o mísero arder e desejar de qualquer forma jogar aquele inabalavelmente mais forte no chão. Esse tipo de gente não tem amor, não foi criado com valores pessoais que lhe trouxessem auto-estima, eles mais dependem vencer derrubando os outros, são suas únicas vitórias, amargas por sinal, que raramente os fazem melhor, talvez consigam apenas sentirem-se igualmente frágeis, isso é o mínino que um  complexo de inferioridade ganha na vida, ser igual por baixo.

Eu mesmo que vivi zumbiando por anos, sempre tive amor dentro de mim, uma mãe de voz firme, dura, mas que juntas na dor, nos tonamos cúmplices na compaixão, somente porque desde sempre me senti amada e amparada por ela. Um Sol ariano idealista e inocente, sem muita malícia foi que me fez ser íntima de pequenos inimigos, levei tombos, choquei-me emocionalmente, impactada com a maldade alheia, tinha medo, era covarde e carente, mas enquanto não encontrei eu mesma e meu amor sarou minhas feridas, não pude ser forte interiormente. Hoje ainda peco pela inocência, mas continuo acreditando nas pessoas, acreditando que eu posso mudar as coisas a partir das minhas atitudes, do que eu sou e do que ensino, não como verdade , mas como caminho de auto-descoberta. A menina ainda vive, resiste  e cultivo-a, pois é quem me faz acreditar, me faz seguir e lutar para crescer sem perder a amorosidade. Crescer dói, a responsabilidade da vida é uma atenção constante de amor para com nossos sentimentos, nosso corpo, nosso bem-estar, consciência é lidar com essa realidade mentirosa, falsa, essa forçosa submissão ao poder dos grandes, que nos faz sobreviventes frente a total falta de liberdade de escolha, e nos aprisiona a sermos todos tão aparentemente parecidos, seja ao que nos roubam e ao que nos é imposto.

Por isso que eu continuo acordando a cada amanhecer levando meu barco a navegar, mesmo com medo da travessia por caminhos desconhecidos, mesmo com aqueles que ficam nas margens à espera de um naufrágio meu, eu ainda continuo viva e aceno de longe para todos, que de alguma forma, consciente ou não, me negam suas mãos, me negam uma palavra verdadeira, a compreensão do meu esforço e determinação, se calam numa torcida competitiva até onde irei... Ah mal sabem eles que é nessa minha companhia que me basto, como se agora fosse hora de estar no front da vida, livre dos medos que me atrasaram a chegada, mas que me deram o tempo necessário para crescer. Hoje cada horizonte tem um contador de dias a frente, uma ansiedade perene por tudo a realizar e uma certeza, de que navegarei  até onde tiver meu porto de regaço a me fornecer o conforto da morte serena de um coração satisfeito e pleno de luta e realização. Os fracos são meros espectadores que observam e invejam tudo o que acreditam não poderem ser. Não admitem mudar, encarar suas falhas, ou são vítimas da vid e acreditam que a vida deve a eles alguns privilégios, e mentem a ocultar suas imperfeições de caráter, diluídas em suaves e macias vozes sempre prontas a servirem de bengala aos necessitados. Mal se percebem que fazem de muitos suas próprias bengalas, usando-os  como se assim são "ganhadores".

5 comentários:

  1. Ah Minha Rica...

    Eu faço esa MESMA pergunta varias vezes ao dia, quando me defronto com a falta de educação, amor, caráter, humanidade das pessoas que nos circundam a rotina. E ainda alguns chegam a soltar quando são questionados os seus atos na cara : "de que mundo você é, todos fazem assim"...Pergunta feita com um ar de deboche, de sarcasmo, com certo ar esnobe e fanfarrão de que eu sou imbecil. E nessa caminhada pela VIDA, acabamos por ir seguindo, brincando de desafiar a solidão com a própria companhia...

    Essa Lua caprina!!!


    Beijunda San

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  2. Tu és alguém que encontrou rumo na vida..Pegas o teu barco, atravessas sózinha o mar das contrariedades, das incompreensões e não queres saber dos ventos contrários...
    Quando regressares a casa, eles ainda lá estarão cheios de medo e de inveja por não serem como tu..
    Não desistas nunca!
    Um beijo
    Graça

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  3. Eu adorei o teu texto :D

    Lindissimo...:D

    Ps. se quiseres passa pelo meu :D

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  4. Oi Graça,
    A verdade é essa, eu vou aprendendo a deixar passar essas pessoas ao largo da minha vida e continuo em frente, mais me ensinam do que me marcam , são apenas passantes, outros por pouco nos deixam saudades eternas.
    Beijos
    San

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  5. San, suas palavras são tão maravilhosas quanto você!

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