Pensamento

"Onde quer que o homem vá , verá somente a beleza que levar dentro do seu coração" . Ralph W Emerson

sábado, 8 de agosto de 2009

Por Onde Anda Nossa Inocência?

Essa nossa criança interior anda embotada, a deixamos lá no passado, nas vagas lembranças que temos da infância. Numa viagem de dejà vu, voo pela minha memória emotiva, lembro de alguns fatos, certas cenas e, mesmo que não tenha sido fácil aquele tempo, eu era feliz, uma felicidade diferente desta que hoje tentamos encontrar. Era a felicidade do ser criança, mesmo que tudo seja proibido, "não ande descalça", "não saia sem o casaco", "nada de brincar com os meninos na rua", não fale de boca cheia", eu tinha dentro de mim todo um mundo de fantasia, onde eu podia ser tudo, não existia tempo, eu era o agora quando abrir os portões dos meus sonhos de olhos abertos. A maldade humana me rondava, mas eu sequer captava que ali existia ódio, ressentimento. Eu tinha meus heróis de carne e ossos, os amava apesar dos castigos, das brigas, pois nos intervalos sobravam beijos, afagos, colos pra dormir, passeios na praia, os castelos de areia, minhas bonecas, nem dava pra reclamar demais. Ademais sobravam todos os heróis da tv e ali eles concretizavam todos os meus sonhos. /

Os pais acreditam cegamente que somos burrinhos desde que nascemos e não sabemos nem sugar o peito, eles não nos percebem crescendo por dentro, só por fora, se orgulham do que parecemos fisicamente com eles, do que conquistamos em títulos e diplomas, mas tem medo de saber quem vive dentro de nós e o quanto somos melhores que eles. É verdade, eles amam mas competem, não podem perder seu pátrio-poder, eles acreditam que nos financiando, alimentando e ignorando nossas ideias, eles controlam e manipulam quem seremos, já projetados por eles como ficha de compensação.

Eu cresci, passei a ter hora pra acordar e deitar, para fazer prova na escola, pra tomar banho, virei escrava das obrigações, não eram "deveres", se não fizesse...tinha castigo, palmada, gritos. Nem saber dizer não eu sabia, o amor era maior e a dor menor que a dependência emocional. Cresci mais um pouco e fui ficando auto-suficiente, só pele pra fora, eu já escolhia as roupas, o que queria comer, rejeitava abertamente a autoridade sem propriedade dos meus pais. Aprendi a ver que mentiam, não eram sinceros, não faziam o que falavam, era a maior justificativa para acabar com a moral deles.

Cresci tanto que me perdi do meu passado de criança, perdi a inocência física aos 14 anos, depois perdi a ignorância e aprendi a jogar frescoball, aquele passeio no clube, nada a declarar de verdadeiro, jogos de sedução, para arrumar um namorado e um emprego. Dizer não sempre não é consideravelmente ser adequado, o ideal é lançar mão das estratégias, dos ensaios, de qualquer coisa que nos dê tempo e espaço para ver onde atirar a flecha e laçar o touro.

Nossa criança ficou lá, guardado no armário, junto com as bonecas, os bilhetes dos namorados amarrados em laços de fita, as flores secas e o relógio biológico emocional congelado. Isolamos a criança dentro de nós, viramos falsos super-heróis, vestidos de Griffes, diplomas na parede, unhas vermelhas no lugar das luvas de boxe e uma língua afiada, tal qual uma foice, pronta a decapitar o primeiro que tenta te puxar o tapete... Tem também as crianças-anões, que existem dentro de nós lutando para sobreviver aos altos balcões para ser ouvidas, vistas, talvez elas gritem mais, lutem mais, encontrem meios de viver apesar de "baixinhas", elas continuam acreditando que não morreram, que continuam vivas, apesar do mundo dos Grandes ser tão cruel e incapaz de olhar para dentro de si mesmo, de olhar para baixo, de ajoelhar e conversar de igual para igual com sua criança, respeitar seus desejos. Mesmo que para muitos ser cético, desconfiado, vingativo, medíocre, querer levar vantagem em tudo os faça acreditarem assim sobreviver aos caos das desilusões e mágoas que guardam no peito, aquelas velhas bonecas quebradas, os carrinhos sem roda, tudo o que eles foram perdendo pelo caminho.

Mas, ela resiste, pura, cristalina, dentro de cada um de nós, por vezes ela aparece de madrugada, nas noites insones, nas lágrimas derramadas de pura impotência em ser tão forte e duro, e ela está ali a seu lado, querendo colo, dando o ombro e tentando fazer cada um de nós acreditar que é preciso ser verdadeiro, autêntico e cheio de boas intenções.

O resto que se exploda!
Se mate"
Se corroa !
Se envenene!



6 comentários:

  1. San, adorei seu novo filho!! Um grande beijo!!
    Janaina Farias

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  2. Era dito que a infância era um tempo inocente porque se acreditava que nesse tempo não havia sexualidade, então Freud veio e descobriu a sexualidade escondida em toda criança. Eu acredito que acreditamos na inocência da criança, movido pelo motivo narcisista de que “somos bons” e se não o somos “um dia fomos” e o mundo nos corrompeu. Eu acredito que esse seja um ponto que deve ser visto, afinal as recordações da infância não são nítidas, e não são confiáveis, pois o inconsciente preenche lacunas com eventos que não existiram. Como criar um “crime” para aceitar o complexo de Édipo. Quando perguntamos ao outro sobre nossa infância, temos informações parciais, pois o outro à medida que envelhece deixa a desejar como memória, além do fato – não se confia na memória, uma vez que ela pode estar preenchendo lacunas com eventos inexistentes. É difícil falar sobre infância, lembranças, pessoas; é sempre difícil. Abraço.

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  3. É verdade Vinícius, mas fundamental falarmos dessa nossa inocência, a inocência da criaça que existe em nós por toda a vida, essa pureza de alma, a relação da amorosidade do ser humano com o universo. Essa nunca se desfaz, sejam quais forem as experiências de infâncias, elas estão guardadas, trancadas, são elas muito do nosso auto-amor, que nos salva, que nos faz acreditar de novo.
    Beijos
    Obrigada pela visita. :)

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  4. Pois é San...

    Li esses dias um artigo não me lembro mais do autor,em que ele dizia que a "pureza era virtude,já a inocência burrice"...(Só que vai olhar no dicionário, as duas palavras têm o msm significado). O "Ogro" defendia que a inocência era igual ao hímem na mulher, pra ser arrancado =(
    Que fazia parte do ritual do crescimento, do batismo da sua entrada no mundo adulto e blablabla...=(

    Dessas mentes "evoluidas" que saem o estado caótico da sociedade atual.

    Infelizmente.


    Beijokas Sandrissima

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  5. Fofucha,
    Acho que o povo associa muito inocência à virgindade, a falta de experiênca Basta sairmos da questão razão-matéria e redimensionar para a essência e espiritualidade, a chama divina que calenta nossa alma a lutar pela vida, pela saúde, pelo equilíbrio mente-corpo.

    Beijundas
    San

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  6. bem, assim, então, é possível crescer sem medo, mesmo tendo ESTA inocência dentro da gente, aceitando-a!

    Textos lindos!

    Um beijo
    Pri (ascendente em áries)

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